RoccoEncontre na Saraiva e no Submarino.
ISBN: 9788532527349
Páginas: 349
2012
Sinopse:
Sob o pseudônimo de A. N. Roquelaure, Anne Rice, reimagina a história de Bela e expõe toda a subjetividade deste conto que povoa a imaginação coletiva, explorando sua ligação inegável ao desejo sexual. Aqui, o príncipe desperta Bela não com um beijo, mas com a iniciação sexual. Sua recompensa para acabar com os cem anos de encantamento é a escravidão total e completa de Bela a seu prazer. A heroína é levada para o castelo do príncipe onde terá de se submeter a provações inimagináveis como prova da sua entrega e dedicação.
Eu me lembro bem de estar rodando por uma livraria meses atrás e ver um livro da Anne Rice, em inglês, sobre o qual a única coisa que eu sabia era que se tratava de um reconto em três volumes da história da Bela Adormecida. Eu sequer sabia que o livro já tinha sido publicado no Brasil, e olhava pra ele como uma leitura distante, no futuro, como todos os livros da Anne que vejo por aí. Tenho uma relação de puro amor com Anne Rice. Só li três livros dela – contando Os Desejos da Bela Adormecida – e, ainda assim, ela é uma das minhas autoras favoritas e eu tenho planos de ler sua obra completa, um dia.
Depois lá estava eu vagando por uma livraria, meses depois de ter visto pela primeira vez o exemplar de The Claiming of Sleeping Beauty em uma outra livraria, quando encontro um livrinho discretamente colocado em uma prateleira baixa, junto a uma coleção de clássicos. Não faço ideia do porquê de terem colocado o livro ali e não junto com outros livros da autora, na seção de Literatura Estrangeira. É engraçado pensar que isso reflita a situação do livro. Em meio a esse boom de literatura erótica e a atual “moda” do sadomasoquismo, esse livro aqui não teve a atenção merecida.
Pois sim, é disso que se trata. Anne Rice, a rainha do gótico, decidiu, sob pseudônimo, escrever uma trilogia que recontasse a história da Bela Adormecida, e que fosse o tipo de livro erótico em que as pessoas não precisassem ficar marcando as “partes quentes” ou simplesmente tentando acelerar a leitura até elas. No Skoob, encontrei algumas resenhas negativas a respeito do livro, vindas de leitoras da geração 50 Tons de apreciadores – por assim dizer – da literatura erótica. As expectativas destas leitoras, aparentemente, eram de um romance lindo e açucarado onde o rapaz malvadinho vai dar palmadinhas na princesa na hora do tchananã. Mas não é isso que a Anne fez. Ela não escreveu um romance picante. É um erótico visceral, sem enrolações, onde não há uma página que não contenha nudez, sexo ou punições sádicas.
Particularmente discordo de pessoas que dizem que Cinquenta Tons de Cinza apresenta sadomasoquismo como nunca antes. Parafraseando o nosso ilustríssimo cânone, filósofo e pensador das internets, PC Siqueira, “50 tons de cinza é pornô de tia”. Nada mais que isso. O sadomasoquismo apresentado nele é um fetiche levemente abordado, para não chocar as mães de família sonhando com seus Mr. Greys. Talvez por isso Os desejos da Bela Adormecida não tenha bombado com a onda de pornôs de tia que dominou as livrarias. Primeiro porque eu, que já tentei ler 50 tons, sei que o livro é escrito para o público feminino e seus encantos dificilmente vão cair sobre um cara. Mas o livro de Anne não. É impossível um ser humano de qualquer sexo ou orientação sexual não se sentir magnetizado por esse livro, atraído a ler escondido, dando risinhos com toda a perversão e imaginando se as pessoas à sua volta no metrô acham que você é louco por estar gargalhando ruborizado sobre alguma passagem extremamente sem vergonha.
Falando sem rodeios: o livro tem sacanagem de cabo a rabo – entendam como quiserem. Quando você pensa que ela vai dar aquele alívio de algumas páginas entre um tchananã e outro, lá vem ela novamente, com mais rodadas de sexo e sadismo. Se você tem medo de destruir aquela mágica ideia que você tem desde criança, da princesa dormindo em seu belo vestido resplandecente e em sua cama de dossel iluminada magicamente, despertando com um beijo de amor verdadeiro do príncipe encantado, nem leia este livro. O despertar é bem mais interessante que isso, acreditem.
Anne retratou bem o período medieval em que o livro se passa, sem fazer demoradas e minuciosas descrições como a maioria dos autores faz quando trabalhando uma história nesse cenário. Aqui ela criou um sistema de aliança entre reis e senhores de feudo que é um pouco diferente do “eu tenho uma filha e você tem um filho, então vamos unir os reinos” ao qual estamos acostumados. Aqui, as grandes famílias trocam escravos. Príncipes, princesas, filhos de nobres são enviados, quando jovens, para servir na corte de reis e nobres de terras aliadas. Lá eles permanecem por quanto tempo o seu então Senhor ou Senhora decidir, e os próprios pais consideram a servidão como um grande aprendizado para os filhos.
Os jovens príncipes e princesas, então, são educados para servir aos desejos e caprichos de toda a corte. Um membro pode tomar um escravo como amante e, assim, ele só servirá a esse membro, mas a maioria dos escravos da corte está lá à mercê de todos. Bela, servindo na corte, começa a aprender como as coisas funcionam. Ela é uma personagem muito ingênua e faz suas bobagens como qualquer protagonista, mas, no geral, é uma personagem bem neutra, e o que acontece com ela e a história à sua volta é que encantam. Afinal, é um livro erótico. Só isso. À moda antiga, mas com um nível de sadismo inédito, ao menos pra mim, que nunca li nada parecido. A história não exige os personagens mais bem trabalhados do mundo. Achei interessante a Anne trabalhar no livro, nesse universo de subserviência e escravidão sexual das princesas e príncipes, uma variação bem grande de cenas de punição e uma larga exploração da – hetero, bi e homo – sexualidade no livro. É isso aí, minha gente. Diversão pra todos os gostos!
Eu sou fã dessa mulher desde o primeiro livro dela que li, e achei sensacional a ideia de um livro erótico escrito por ela. Antes de ler Os Desejos da Bela adormecida, a cena mais quente que eu já tinha lido havia sido no primeiro volume de A Hora das Bruxas, também escrito por ela. Mas, agora, com certeza a minha cena favorita de todos os tempos sai desse livro aqui. O estilo gótico da autora é sempre permeado por uma sensualidade palpável, sem necessidade de sexo explícito ou nudez para isso. Entrevista com o Vampiro, por exemplo, é um livro magnético, instigante e sensual, sem ter uma cena sequer de vulgaridade. Esse livro foi como um estudo desse elemento forte na narrativa da autora, e eu tive vontade de começar a relê-lo assim que fechei a última página – ao mesmo tempo em que estava arrasado pelas reviravoltas finais e desesperado por sua continuação. Por que ler 50 tons de cinza quando você pode ler um livro escrito pela Anne Rice?
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