Noturno, de Chuck Hogan e Guillermo Del Toro


A capa nacional do livro, publicado pela Rocco.

Tirei este livro da prateleira de uma livraria com um pé atrás, pois tinha lido muitas resenhas negativas a seu respeito no skoob. Não sei o que realmente me chamou atenção nesse livro. O próprio fato de um dos autores ser Guillermo Del Toro já me desanimou porque o único trabalho dele do qual eu me lembrava na época da leitura de Noturno era a direção do filme Blade II, que, como podemos dizer... não é lá essas coisas. 
Dessa forma, comecei a leitura mais por curiosidade, imaginando ler algumas páginas e largar, mas não foi bem o caso. Fiquei surpreso com a forma como o livro me prendeu a atenção durante horas seguidas.  A primeira metade do livro é ágil e flui bem depressa, com uma boa carga de mistério. A lenda de Jusef Sardu abre o livro lançando a pitada de fantasia da trama e a história de Abraham Setrakian traz o drama e causa uma identificação heroica muito grande no leitor. Pessoalmente, Setrakian foi o personagem de quem mais gostei no livro.
Afinal, do que se trata Noturno? Se você chutar baseando-se no título e chutar que se trata de vampiros, você acertou. Se você pensou em vampiros excessivamente góticos, ou aristocratas, ou quem sabe até fatalistas, adolescentes e brilhantes, você errou feio. Como cada autor que decide escrever sobre vampiros cria “o seu próprio vampiro” com base em uma das lendas originais, temos centenas de variações dessa figura na literatura popular, e é claro que dois grandes caras como Chuck Hogan e Guillermo Del Toro criaram sua própria versão da lenda.
Aqui está o diferencial desse livro. Os autores criaram seus próprios vampiros, com suas habilidades e fraquezas, sua origem e sua mitologia, mas a história não gira em torno deles. Lembram um pouco os vampiros retratados no livro Eu sou a Lenda, de Richard Matheson. Os vampiros de Del Toro e Hogan são inconscientes, pessoas infectadas por uma doença milenar que, dentre outras coisas, causa uma mutação na traqueia, criando um tipo de tentáculo, na ponta do qual existe um ferrão, que os vampiros usam para se alimentar. Os vampiros aqui retratados são realmente asquerosos, cheios de pus, vermes e um líquido pastoso e branco que exsuda de suas feridas no lugar de sangue (talvez mais pus).
O que acontece: um avião pousa no aeroporto JFK, em Nova Iorque, e de repente as luzes se apagam, fazendo a central perder completamente a comunicação com o avião. Começam momentos tensos, até que o CDC – Centro de Controle de Doenças – é convocado, pois há suspeitas de terrorismo biológico. O líder da equipe do CDC, que atende ao chamado, é Eph Goodweather, o nosso protagonista.
Da metade do livro em diante, a trama se torna mais acelerada. Uma pandemia atinge toda Nova Iorque e o vírus da vez é o queridíssimo vírus da doença vampírica, é claro. A verossimilhança com que a doença e toda a epidemia são narradas chega a ser aterrorizante. Del Toro e Hogan me causaram certo medo de situações desse tipo. A relação entre Eph, seu filho Zack e o ligeiramente implícito "quadrado amoroso", protagonizado por Kelly, Matt, Eph e Nora, trazem a pitada de suspense romântico do livro. 
Temos Abraham Setrakian, um idoso sobrevivente do holocausto. Dono de uma loja de penhores no bairro nova-iorquino do Harlem, vendo as notícias e toda a boataria, prevê o caos que tomará Nova Iorque e o mundo, se revelando um experiente “caçador de vampiros”. Ele é uma das únicas pessoas que realmente sabem da existência dos seres, sabendo, assim, como feri-los e matá-los. Setrakian tem uma rixa de muitos anos com um vampiro conhecido apenas como Mestre.
E Mestre. O misterioso vilão que demora a se mostrar. Um ser maldito, causador de mistério e especulação, porque, dentre todos os vampiros do livro, ele é um dos poucos, se não o único, que tem consciência. Mestre é um vilão odioso, detestável, que me causou um asco sem tamanho. O que é incomum, pois sou dos muitos que se identificam com os vilões. Mestre e sua contenda com Setrakian roubam a cena em alguns momentos do livro, de forma deliciosa, e o gancho final não poderia ser mais estiloso, de modo a acorrentar de vez o leitor à trama.
O livro, que termina com um desfecho maravilhoso mostrando as proporções épicas desta premissa, abre com estilo a Trilogia da Escuridão. A dupla de autores me contagiou e surpreendeu com este trabalho, conseguindo me aferrar à série e despertando em mim um desejo sobrenatural de ler o volume seguinte. Noturno é seguido por A Queda e a trilogia se encerra com A Noite Eterna.



Encontre: Saraiva | Submarino | Skoob

0 comentários:

Postar um comentário