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Bórgia, volumes I ao IV, de Milo Manara e Alejandro Jodorowsky


          Como qualquer um que goste de quadrinhos, eu já havia ouvido falar muito do trabalho do italiano Milo Manara. Seu traço sedutor e seus quadrinhos eróticos são lendários. Já de Alejandro Jodorowsky eu não havia ouvido falar tanto. Lendo sobre ele, descobri que grandes nomes, como John Lennon, David Cronenberg e David Lynch, são seus fãs e descobri que ele é coautor de Incal, uma HQ de que já ouvi falar um pouco nessa vida. Acontece que, um dia, esse espanhol e esse italiano entram em um bar...
          Bem, não deve ter sido bem assim, mas um dia Jodorowsky e Manara se juntaram para criar algo juntos e, honrando sua fama, Bórgia, o fruto de seu trabalho, é algo memorável. Foi lançado em quatro álbuns, em sua ordem: Sangue para o PapaO Poder e o IncestoAs Chamas da FogueiraTudo é Vaidade. Traça uma biografia de Rodrigo Bórgia e de sua família. 

A capa do terceiro volume da série.
          No primeiro volume, Sangue para o Papa, Rodrigo está jovem e é um Cardeal da Igreja Católica. Seus filhos, César, Giovanni, Jofre e Lucrécia, ainda são crianças aqui. É interessante a forma como a história começa mostrando a corrupção que existia entre os cardeais e até mesmo com o Papa Inocêncio VIII. A Igreja e o papado são o poder máximo em Roma – e em toda a Itália – e o poder em suas mãos é inteiramente político. Os Cardeais, então, não guardam nenhum código religioso sob os panos: visitam e recebem prostitutas, mostram-se gananciosos e vis.
          O Papa Inocêncio VIII está doente e acredita que transfusões de sangue de meninos (daí o nome do volume) e leite de mães o curarão. Os Cardeais todos cobiçam a sua cadeira. Há compra de votos e chantagens e Rodrigo Bórgia mostra a quê veio. Nada se opõe a ele quando quer alguma coisa. O homem é inteligente, ardiloso e eloquente. Seu desejo é se tornar Papa e ele assim consegue, subornando, chantageando e mandando matar algumas pessoas. Torna-se, então, o Papa Alexandre IV e foi aí que descobri que o nome dos papas não é o nome verdadeiro. Um personagem interessante aqui é Micheletto, um capanga pessoal de Rodrigo que normalmente sai para ameaçar ou matar quem quer que seu patrão ordene. Micheletto protagoniza algumas cenas de ação muito boas, algumas as mais violentas da HQ.
          Rodrigo preza muito que seus filhos se mantenham unidos e repreende muito César e Giovanni, que brigam muito quando crianças. Quando o segundo volume começa, algum tempo obviamente se passou. Rodrigo está tentando conseguir o respeito dos romanos e colocar ordem no Vaticano. A desordem é tanta que até a Santa Praça do Vaticano é constantemente ocupada por prostitutas e cafetões, que exercem suas funções ao ar livre sem pudor algum. Aqui entra Micheletto outra vez, partindo em ordem de Bórgia para lidar com alguém que o povo realmente respeita.
          César e os irmãos cresceram e Rodrigo tem planos para cada um dos três, desempenhando um papel crucial em sua cruzada para se manter no poder. Neste volume, Maquiavel (sim, o filósofo) faz uma aparição, mostrando uma faceta não tão admirável. Ele vai, a mando de Rodrigo, buscar Lucrécia no convento para onde havia sido enviada pelo pai. Ela vai se casar com o duque de Pesaro. Jofre e Giovanni também têm casamentos arranjados por Rodrigo, todos criando alianças de poder. Os planos de Rodrigo eram expandir o poder da Igreja, da sua Igreja, até os confins do mundo, começando pela Itália, que vivia com estados independentes. O segundo volume leva o nome de O Poder e o Incesto porque aqui Rodrigo ascendeu, criou alianças e está com a cidade nas rédeas; e pelo incesto cometido por dois de seus filhos.
          O terceiro volume começa com um baile de máscaras promovido por Sua Santidade para comemorar o domingo de páscoa. No baile, é proibido falar ou tirar as máscaras e todos são obrigados a beber do ponche, no qual se mistura o álcool e elixires afrodisíacos. No baile, Manara se refestela: é uma das sequências mais promíscuas da história inteira. É também onde acontece um imprevisto, no mínimo interessante, que alude um pouco a um acontecimento do volume anterior e que mostra como Lucrécia sabe ser eloquente como o pai.
          Em Florença, o padre Savonarola está no poder e seus discursos fanáticos apontam os Bórgia como servidores de Satã. Ele governa Florença e organiza fogueiras onde o povo queima joias, livros, cartas e o que mais o padre julgar pecaminoso. Botticelli aparece rapidamente em uma das cenas das fogueiras que visam “salvar o povo do fogo do inferno”.
          Neste terceiro volume, mais algum tempo se passou e Roma e o Vaticano estão decaindo. A cidade está imunda, há moscas por toda parte e a peste negra está se espalhando pelo povo. Rodrigo nomeia seu filho, César, Cardeal-Arcebispo, planejando que o mesmo o substitua no trono papal. Rodrigo está realmente mais velho aqui, aparecendo de cabelos brancos e de rosto rugoso. Neste volume, ele tem mais alguns trabalhos a Micheletto, que se destaca mais uma vez, e é interessante notar que, desde o primeiro volume até o desfecho da história, se passam vários anos e Micheletto conserva a mesma aparência. Isso só pode ter sido intenção de Manara, que jamais deixaria passar deslize tamanho.
          O último volume é o mais eletrizante. Aqui, todos os filhos de Rodrigo mostram que têm sangue Bórgia nas veias. Todos mostram o mesmo temperamento inabalável de Rodrigo, especialmente César, que tomou para si os planos de dominar o mundo ser governante absoluto. Leonardo da Vinci aparece neste volume, traçando uma aliança com César para projetar máquinas de guerra para lhe ajudar na conquista de Florença e do reino de Nápoles. Em poucas páginas, repletas de reviravoltas e cheias de ação, a história se conclui. Cada personagem tem seu desfecho digno e, no fim, vemos Micheletto contando a história dos Bórgia à sua mãe. Os últimos quadros, em que ele conversa com sua genitora, são sensacionais.
          Bórgia é uma das melhores HQs que já li. Deixou-me com muita vontade de ler mais de Manara e de Jodorowsky e deixou saudade dos Bórgia, por mais odiosos que fossem. Fiquei feliz e muito agradecido por ter ganhado esta joia de uma amiga

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Especial Quadrinhos: The Walking Dead + Resenha: A Ascensão do Governador, de Robert Kirkman e Jay Bonansinga




          Os zumbis nunca estiveram tão na moda quanto hoje. Agora, mais do que nunca, os filmes de zumbis estão ganhando público maior e, assim, maiores bilheterias, o que faz com que os estúdios invistam neles cada vez mais, com maiores e maiores orçamentos. Um exemplo disso é o vindouro World War Z, com Brad Pitt, que promete ser um épico do gênero. Considerando onde tudo começou, com os filmes de George Romero – os melhores, na minha opinião –, os zumbis saíram do nicho trash e se tornaram verdadeiros blockbusters. Um exemplo de como se vê um investimento maior nesse tipo de filme está logo no trailer de World War Z: só o trailer deve ter custado mais do que A Noite dos Mortos Vivos inteiro. Romero filmou seu clássico com singelos U$ 114 mil. Já World War Z teve um orçamento mais de dez vezes maior, U$ 125 milhões, e não acaba aí: os produtores têm planos para uma trilogia.
          E é isso, os zumbis nunca renderam tanto para a indústria. Nos últimos anos, citar exemplos de um trabalho bem-sucedido com os mortos vivos se tornou impossível sem lembrar The Walking Dead. A história começou a ganhar notoriedade em seu terceiro ano de publicação, quando a primeira tiragem de seu número 33 esgotou em 24 horas. Em 2010, a série ganhou o prêmio Eisner – o Oscar dos quadrinhos – de Melhor série contínua. No mesmo ano, estrearia a série de TV que adapta os quadrinhos e que alavancou a febre zumbi dos últimos anos.
          Robert Kirkman é o verdadeiro moneymaker do momento. Tudo em que toca parece se tornar ouro. Seu império abrange jogos de videogame, série de quadrinhos, seriado de TV, livros, jogos de tabuleiro e dezenas de produtos licenciados. A forma com que o autor abordou a história no começo, quando só havia a série em quadrinhos, inovou. Em suas histórias, os zumbis não são o show, quanto menos os vilões da história. Os mortos vivos são o pano de fundo em uma peça onde os sobreviventes interpretam herói e vilão ao mesmo tempo. 
A capa do primeiro volume da série, traduzido como "Dias Passados"

          A série em quadrinhos é publicada no Brasil pela editora HQM e, até o ano passado, era publicada no formato de encadernados de seis edições cada, sob o título de Os Mortos Vivos. A partir de outubro, a editora passou também a publicar no formato de revistas mensais – e estas estão saindo com o título original, The Walking Dead. Mas os volumes compilados continuam saindo, atualmente no volume 11. A variedade de formatos torna muito fácil para os novos leitores começarem a acompanhar a série em quadrinhos. As edições mensais estão atualmente no número 8 e todas elas podem ser compradas no site da editora.
          No primeiro arco da série, nós conhecemos Rick Grimes e sua história como policial que entrou em coma após ser baleado em uma perseguição, acordando no mundo destruído pelos mortos que não ficam mortos. O primeiro arco da série tem os ótimos desenhos de Tony Moore, que tristemente foi substituído na sétima edição por Charlie Adlard. Adlard faz uso demasiado de sombras na construção dos desenhos, o que me causa certo desagrado. Os desenhos de Tony Moore, por outro lado, são os melhores. Tem traços finos, mas vívidos. Tem emoções bem destacadas, o que é importante, porque The Walking Dead é um drama, não um terror.
          A história todos conhecem. Rick acorda do coma e parte em busca da mulher e dos filhos, passando por todas as suas desventuras. Com os outros sobreviventes, viverá sempre correndo, sempre com as armas prontas, buscando a sobrevivência e não podendo confiar nem nos outros sobreviventes. 
          Quem começar a ler The Walking Dead após ter assistido à série logo notará algumas divergências na história, como sempre acontece em adaptações. Algumas mortes de personagens que acontecem logo no primeiro arco foram adiadas na série de TV – e alguns personagens nem existem ali. Desnecessário descartar personagens que têm quase vida própria nos quadrinhos e criar mais personagens, por melhores que sejam, para a série. Um exemplo são os irmãos Merle e Daryl, que são amados pela audiência, mas que não existem nos quadrinhos. A série também dá pouco pano para sensacionais personagens como Michonne, fortíssima nos quadrinhos, mas muito mal representada na série. Não me demorarei citando os problemas da série de TV, porque este é um assunto muito enfadonho, que se torna muito repetitivo. Toda vez que um livro é adaptado, nós vemos o mesmo mimimi: o livro é melhor que o filme. The Walking Dead não é uma exceção a esta máxima.
          Robert Kirkman dosa o drama e a ação em todas as edições. O arco termina com estilo, um final incrível, que realmente encerra o arco como uma fase da história dos sobreviventes – leva o nome de Dias passados.

Encontre: Números mensais Site da editora | Comix Book Shop  Encadernados Saraiva | Comix Book Shop | Skoob

A capa do primeiro livro da trilogia que contará a história do Governador.
          Como a semana é especial zumbis e o post é especial The Walking Dead, temos uma resenha dupla de trabalhos de Robert Kirkman. Primeiro, vimos uma resenha do primeiro volume da série em quadrinhos e, agora, vamos falar sobre o primeiro romance ambientado no universo da série. A ascensão do Governador foi escrito por Kirkman em parceria com o premiado romancista de terror Jay Bonansinga. Como era de se esperar, o livro foi um best seller quase instantâneo.
          Minha experiência com o livro foi muito curta. Li o volume, de quase 400 páginas, em algumas horas. Kirkman e Bonansinga fizeram uma parceria incrível em termos de narrativa e trama. A prosa do livro não é demasiado detalhista, mas também não é superficial demais. A história tem os mesmos padrões da série em quadrinhos: os zumbis são apenas o background e os sobreviventes são o verdadeiro foco. 
          O nome do livro invoca um personagem conhecido dos quadrinhos e que ficou conhecido pelos fãs da série de TV na terceira temporada. O Governador é um dos maiores vilões de quadrinhos e é um bosta no seriado já foi até listado como o “vilão do ano” de 2012. Nos quadrinhos e na série de TV, nós conhecemos o Governador como o homem por trás de Woodbury, uma cidadezinha que está se mantendo nos eixos de forma ligeiramente socialista. Nós conhecemos seu nome, Phillip Blake, mas sabemos muito pouco de sua história. No livro, descobrimos como ele chegou aonde chegou e qual é a origem de suas atitudes. 
          A trama do livro segue o grupo de sobreviventes formado por Phillip, sua filha Penny, seu irmão Brian e seus amigos Nick e Bobby. O livro é realmente sensacional para quem acompanhou as HQs, porque, além de falar mais sobre o nosso vilão favorito, ele também fala, mesmo que rapidamente, do começo da epidemia da doença dos zumbis e de como todo o apocalipse começou e acabou com tudo em uma velocidade absurda. 
          O livro também se torna um dos mais tristes que você jamais lerá se você o fizer depois de ter lido os quadrinhos ou visto a terceira temporada da série, porque você vai lendo, vai lendo e você sabe o que vai acontecer – e se pega desejando para que não aconteça, roendo as unhas de curiosidade. É claro que eu não vou contar o que é, mesmo não considerando spoiler se visto de algumas formas. 
          Ótimas sequências de ação, um pouco mais sobre a Atlanta devastada pelos mortos, reviravoltas mil e as bizarrices de Phillip tornam o livro uma experiência incrível. Kirkman realmente conhece as pessoas e a forma como as pessoas agem. Ele ou Bonansinga, quem deles tiver criado as cenas de ação, é um gênio. Uma certa cena com motocicletas é maravilhosa.
          O que mais acrescentar senão mimimi? Se você gosta do seriado, leia os quadrinhos. Se você gosta dos quadrinhos, leia o livro e, vamos lá, dê uma chance à série. A ascensão do Governador tem um final com cliffhanger que vai te deixar louco, porque eu fiquei. O que foi feito aqui é mítico e dá início a uma trilogia que vai contar a história do Governador desde sua Ascensão até os seus momentos na série em quadrinhos. O segundo volume, Caminho para Woodbury, já foi lançado no Brasil e tem uma premissa ainda mais enervante para quem já está avançado acompanhando os quadrinhos. 

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O Inescrito vol. I, de Mike Carey e Peter Gross

A capa do primeiro volume da HQ, publicada pela Panini.
            Pra alguém que gosta de quadrinhos, a sensação de caminhar pela sua banca de jornal favorita é quase a mesma da de passear por uma livraria. No começo deste ano, encontrei, entre as novidades – informadas a mim por um sorridente jornaleiro sempre feliz ao ver o cara estranho que gasta uma nota em revistinhas todo mês – da vez, O Inescrito, de Mike Carey e Peter Gross. De cara a HQ já me chamou atenção, pois conheço a dupla de autores da minissérie The Sandman Presents: Lucifer, lançada ano passado pela Panini em um encadernado de luxo. Lucifer é uma ótima minissérie, com histórias solo de Lúcifer, o anjo caído que faz algumas aparições na obra prima de Neil Gaiman, Sandman. Como Gaiman já elogiava os autores e como eu mesmo havia contestado que ambos não são fracos quando li a minissérie, eu já sabia que O Inescrito seria algo bom.
          O primeiro volume tem uma aparência tímida. Fino, lançado em encadernado de capa mole e a um precinho camarada, estava quase invisível perto dos outros volumes, mas como eu não sou de sair da banca sem ter dado uma olhada em todas as HQs do recinto, puxei este pequeno tesouro daquele canto e já me interessei. O título e a capa me fisgaram fácil. Gostando de ler, e também de escrever, imaginei que a história fosse falar de um escritor ou sobre livros – e de fato não é muito diferente disso. A capa, com o protagonista sendo tragado por uma nuvem de palavras – ou sugado para dentro de um livro em um turbilhão de letras –, estava pedindo para ir para a minha estante e, assim, foi. 
          O Inescrito começou acabando com todas as minhas expectativas para com a história. De início, a abordagem é diferente da que eu imaginava – como algo que fosse retratar o cotidiano de um escritor com pinceladas de fantasia – sendo séria, divertida e adulta, pé no chão e mágica ao mesmo tempo. Os quadros iniciais de Gross se unem ao tom descritivo e juvenil que Carey adota, contando um trecho das aventuras de Tommy Taylor, um momento crítico em sua história. Tommy Taylor é um jovem menino bruxo que está destinado a derrotar o Conde Ambrosio e vive uma série de aventuras com seus outros amigos bruxos no caminho para seu destino. A descrição acaba e os quadros ganham um tom mais vívido. Conhecemos o mundo real, fora do mundo imaginário de Tommy Taylor. 
          O protagonista da história é Tom Taylor, filho de Wilson Taylor, um famoso escritor da maior série de fantasia infanto-juvenil no mundo. Wilson é o criador de Tommy Taylor, o protagonista desses livros, e criou o jovem menino bruxo inspirado no próprio filho – Tom. Acontece que Wilson está desaparecido há anos e Tom cresceu carregando a fama por aí, como uma lenda viva, dando autógrafos e indo a convenções. Uma repórter, na TommyCon, contesta a identidade de Tom e alega que ele não seja realmente filho de Wilson. Quarenta por cento de todas as pessoas alfabetizadas no mundo leram ao menos um livro de Tommy Taylor e a história é tão popular que a boataria levantada pela repórter sobre a identidade de Tom gera protestos e comoção na mídia. 
          É interessante a forma como a história muda de formato. Num momento, estamos vivendo as aventuras mágicas de Tommy Taylor em quadrinhos de cor apagada, que dão a ideia de irrealidade. Em seguida, estamos conhecendo os traumas e dramas de Tom. Então tudo muda e estamos lendo reportagens sobre os boatos em sites de fofocas, assistindo a reportagens nos protestos de rua defronte ao hotel onde Tom se hospeda e os autores usam inúmeras outras ferramentas narrativas para mostrar diferentes perspectivas e tornar a história palpável, quase um relato verídico diante dos nossos olhos. 
          A vida de Tom está cheia de reviravoltas com todo o rebuliço na mídia e coisas estranhas começam a acontecer. A realidade e a ficção começam a se entrecruzar e momentos dos livros de Tommy começam a se concretizar. Personagens escapam das páginas e cruzam o caminho de Tom Taylor, que sabe cada vez menos quem é – se Tom, Tommy, ou um estranho adotado por Wilson.
          Mike Carey e Peter Gross criaram um trabalho raro. A quarta capa está repleta de merecidos elogios à história, um achado em uma Vertigo que ruma cada vez mais rápido para o fim. Para quem é leitor assíduo, quem partilha do amor pelos livros, pelas letras, quem admira os grandes nomes da literatura, a história se torna ainda mais rica. É cheia de referências a grandes clássicos e o volume se encerra com um pequeno conto envolvendo vários figurões da literatura clássica. No segundo volume, há uma citação que prediz que O Inescrito “entra no páreo para se tornar a melhor publicação do selo Vertigo desde Sandman.” (The Onion). De fato, a história tem potencial, conteúdo e poder imaginativo comum à obra prima de Gaiman. Este é, na minha mais convicta opinião, o título em aberto que é o carro chefe da Vertigo no momento. A melhor história sendo publicada, dando vida à editora que já viu dias mais gloriosos. 
          Gostei de O Inescrito, do fundo de meu coração, e estou feliz por estar vendo esta HQ acontecer – e não a lendo depois de finalizada, como Sandman. Torço para que essa história traga um novo clima para a Vertigo, que deve voltar a tremer com o retorno de Neil Gaiman com histórias inéditas de Morpheus e dos Perpétuos de Sandman. Perdoem as inúmeras citações à obra de Gaiman, mas é difícil falar de O Inescrito sem falar dela. As duas histórias são grandes joias de fantasia, publicadas no mesmo selo, escritas e desenhadas por verdadeiros ourives das palavras e dos desenhos, que se ligam e têm as maiores imaginações dos últimos anos. 
          Sem mais enrolação, saiam daqui e vão ler O Inescrito.
 


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Especial Quadrinhos: Batman e Os Novos 52

Pensem em um cara esquisito. Sempre existe um. Na sua sala do colégio ou da faculdade. Um cara meio estranho, que não conversa muito. Talvez ele seja o estereótipo do nerd. Ele lê quadrinhos e gosta de coisas que a maioria das pessoas dispensa. Eu acho que me encaixo nesta descrição.
Desde pequeno, acompanho quadrinhos e, ultimamente, com a enxurrada de filmes de super-heróis e a popularização da cultura nerd, tenho visto muita gente querendo começar a acompanhar quadrinhos, vendo que não é uma mídia “para crianças”. O grande problema, citado pela a maioria das pessoas, é a continuidade. Então estou começando aqui uma série de posts pra ajudar a galera que não acompanha, mas quer se situar nos quadrinhos.
Durante muitos anos, os quadrinhos tem tido o hábito não muito legal de viver interligando histórias, arcos e fases de escritores, onde vivem fazendo referências a coisas que aconteceram anos antes. Por exemplo, se você assistiu ao filme do Homem Aranha, curtiu e decidiu começar a acompanhar as HQs para ver se o Peter a Mary Jane ficam juntos, ficará assustado quando vir que Peter e Mary já se casaram, tiveram filhos, se separaram, morreram, ressuscitaram diversas vezes.
Mas aí a cultura nerd invadiu o cinema no fim dos anos 90 e no começo da década passada. Tivemos Batman de Tim Burton, com as fantasias muito fiéis às dos personagens clássicos, tivemos também os X-Men, com um primeiro filme ótimo e sequências deploráveis. Tivemos Blade, Quarteto Fatástico, Demolidor, Elektra, Homem Aranha, Mulher Gato e muitos outros divisores de opinião. E então veio o início da aclamada trilogia Cavaleiro das Trevas, que começou essa nova era.
Quando a Marvel Studios surgiu, dominando bilheterias com seus filmes preparatórios para Os Vingadores (2012), a DC estava muito satisfeita com sua parceria com a Warner e o lendário trabalho de Christopher Nolan com Batman. Ambas as produtoras começaram a se tocar que uma nova geração estava se interessando pelos super heróis e que uma avalanche de jovens ia logo começar a migrar para os quadrinhos. E começaram os reboots.
Reboots são um pouco comuns nos quadrinhos. Normalmente, é zerar o número de uma revista e começar tudo de novo, uma nova origem, novas histórias, novas visões acerca do personagem, ignorando TUDO o que aconteceu antes. Isso é sempre muito bom para novos leitores e é pensando neles que as editoras fazem essas maluquices.
Então aconteceu que, em setembro de 2011, a DC encerrou TODAS as revistas mensais, terminando com o arco Ponto de Ignição, da revista do Flash. Em seguida, foi divulgada a estratégia da nova fase. O nome do reboot: Os Novos 52. Os Novos 52 foram 52 títulos mensais que foram rebootados e relançados pela DC. Entre eles, tivemos grandes caras como Batman, Superman, Flash, Aquaman e toda a trupe do colante colorido.
Os quadrinhos da DC, assim como os da Marvel, saem no Brasil pelas mãos da Panini e Os Novos 52 chegaram ao Brasil só em maio de 2012 – quase um ano de atraso com relação ao lançamento americano. A Panini tem o hábito de lançar mais de uma HQ em uma única revista – lá fora saem 52 revistas de 32 páginas cada –, por exemplo, na revista mensal Batman saem as aventuras das 3(!) revistas solo do herói, que são Batman, The Dark Knight, e Detective Comics.
          Em maio do ano passado, eu já estava há um bom tempo sem acompanhar quadrinhos mensais – parei quando a Panini terminou de publicar o arco O Cerco – e é claro que resolvi retomar o bom e velho hábito. E, levando em consideração o meu bolso e a distribuição das revistas aqui no bairro, comecei a acompanhar as duas revistas do Batman: Batman e A Sombra do Batman.
Como já citado, em Batman temos as aventuras solo do morcegão e, em A Sombra do Batman, a Panini publica as HQs Batman & Robin, Asa Noturna, Batwoman, Batgirl, Mulher-Gato, Batwing e Capuz Vermelho & Os Foragidos. Como A Sombra tem um número grande de histórias por edição, vou abordar seus primeiros meses em outro post, focando só na Batman nesse aqui.

Os coleguinhas do homem morcego, que tem suas histórias solo em A Sombra do Batman.

A revista solo do Batman chegou com tudo. A edição de lançamento esgotou e teve uma segunda tiragem com capa variante e tudo. A ordem das histórias dispostas na revista é Batman, Detective Comics e The Dark Knight, e a revista começa com estilo. Batman, nas mãos do roteirista Scott Snyder e do desenhista Greg Capullo, começa sem alterar o passado do herói e já vai direto ao ponto, começando uma história misteriosa. É interessante que os três Robins estão presentes nessa primeira história e fica claro quem é cada um, orientando – ou confundindo - o novo leitor definitivamente. Não há dúvidas de que é a melhor história da revista e ainda é até hoje, com a décima segunda edição com os dias contados para sair no Brasil.
Em seguida, temos Detective Comics, com arte e roteiro de Tony Salvador Daniel. Essa é um pouco fraca e aqui o Batman está sendo caçado pela polícia, pois acabou a parceria entre os dois. A última história da revista, The Dark Knight, é a mais fraca. Roteiro confuso demais, mas ilustrações de David Finch – que eu admiro.
No decorrer dos meses, um padrão desigual foi se estabelecendo na revista mensal Batman. Scott Snyder e Greg Capullo permaneceram à frente da revista que leva o nome do herói. As equipes de TDK e Detective Comics mudaram no decorrer dos meses, mas ainda assim as duas publicações continuaram sem muita força. A DC soube ver isso lá fora e usou muitas estratégias para trazer mais leitores para as duas revistas. Lembrando que lá as três são publicadas avulsas, ou seja, se você quiser comprar só a do Scott Snyder, você pode.
Houve crossover de personagens de outras revistas em The Dark Knight, houve vilões clássicos e mortes estranhas em Detective Comics, mas a estratégia definitiva de venda e interesse da DC para essas duas foi por volta da oitava edição, quando Batman de Snyder estava em um ritmo fantástico e começou um evento chamado “Noite das Corujas”. Logo as outras revistas solo, além das revistas que saem em A Sombra do Batman, entraram na dança: todas estavam tendo histórias relacionadas com o arco de Snyder.
Hoje eu acompanho Batman só pela história de Scott Snyder, lendo as outras duas com um pouco de preguiça. Mas não desanimem, ainda dá tempo de começar a acompanhar as revistas do Morcego, e vale a pena fazê-lo – pelo menos agora, com A Noite das Corujas finalizada na edição de março, uma nova história deve começar. Tenho sérias preocupações com A Sombra do Batman, mas isso é assunto para o próximo post da série.
          Se você se interessou e quer começar a ler as revistas do Batman, deve fazê-lo imediatamente. Comece comprando as revistas mensais que saem agora, depois procure pesquisar na internet as coisas que perdeu, suas dúvidas e curiosidades. Procure ler as histórias mais famosas e marcantes do personagem, tem muita coisa de graça pra download na internet. Indico os arcos: O Longo Dia das Bruxas, Batman: Ano Um, e Batman O Cavaleiro das Trevas. Indico também A Piada Mortal. Esta última não é um arco completo, mas um clássico do personagem, escrita pelo grande mago das histórias – Alan Moore.
Nota d’A Editora: Aproveitando que o assunto são super-heróis, queria fazer uma observação. Imagino que todos tenham notado a quantidade de atores britânicos que têm interpretado personagens tipicamente americanos ultimamente. Para citar alguns superpoderosos, temos o novo Homem Aranha (Andrew Garfield, nascido nos Estados Unidos e criado no Reino Unido), a Fera em X-Men: Primeira Classe (Nicholas Hoult), o Batman de Nolan (Christian Bale, nascido no País de Gales) e, em breve, até o Superman (Henry Cavill será Clark Kent no filme Man of Steel). Mas é claro que os heróis dos quadrinhos não são os únicos, pois certos súditos de Sua Majestade também têm feito zumbis americanos (o zumbi R, de Meu Namorado É Um Zumbi, também interpretado por Nicholas Hoult), médicos americanos (Hugh Laurie na série House), vampiros americanos (o vampiro Edward de Crepúsculo, por exemplo, vivido pelo ator Robert Pattinson – que, por acaso, tem feito muitos papeis americanos nos mais diversos filmes) e – pasmem – presidentes americanos (Daniel Day-Lewis, em Lincoln de Spielberg)! Os EUA podem até ter exportado um Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), mas não seria de se espantar que em breve importassem um Capitão América (atualmente o americano Chris Evans). Obviamente, não estou dizendo que deveria ser de qualquer outra forma, mas uma coisa é fato: me surpreende muito a incrível capacidade que atores têm de se transformar tão facilmente em pessoas de outra nacionalidade ao atuar. Se não me engano, a prática de escalar atores com nacionalidades diferentes da do personagem que interpretam tem se intensificado nos últimos anos e, como cinéfila que sou, devo dizer que acho maravilhoso que as fronteiras e oceanos entre países sejam cada vez menos uma limitação, pelo menos quando o assunto é cinema (ou televisão). Viva a telona (e a telinha)!

Y: O Último Homem vol. 1, de Brian K. Vaughan e Pia Guerra


          Por mais que eu goste de – adore, cultue – quadrinhos de super-heróis, de vez em quando enjoa e, quando o ano virou, eu estava bem cansado da minha rotina mensal Batman–The Walking Dead (exausto desta última, torcendo para que acabe logo). Então fui atrás de HQs da Vertigo, que é uma editora americana que publica quadrinhos mais adultos, pois já fazia um tempo que eu não comprava as HQs deles.
         Procurei, procurei e uma HQ sobre a qual encontrei muitos elogios foi Y: O Último Homem. Eu já havia visto muita gente que idolatrava essa HQ em eventos e na internet, mas nunca tinha tido a chance de lê-la. Na última Fest Comix (outubro de 2012), até procurei os encadernados da série, mas não encontrei o primeiro.
        Restou-me a saída politicamente incorreta – baixar as revistas na internet. Encontrei um file com todas, da 1 a 60 (a série já acabou faz alguns anos), e corri para baixar o volume um, que leva o nome Extinção.


A capa do primeiro volume da série
          Y: O Último Homem tem como protagonista um cara chamado Yorick, meio vagabundo, aspirante a escapista, que vive em Nova York com o seu mico de estimação, o Ampersand. É filho de uma congressista e é claro que, por isso, são esperados grandes feitos dele. Ele namora Beth, que estuda na Austrália. Sua mãe está sofrendo pressão no Senado com uma emenda que faz com que o Estado forneça ajuda externa a clínicas de aborto. Ela vota contra a emenda e sofre pressão de seus colegas de Congresso para que vote a favor, correndo o risco de não se reeleger se não o fizer.
          Também temos Alter, uma militar firme, baseada nos conflitos palestinos em Nablus, na Cisjordânia. Alter é feminista assídua e, ao contrário do grande estereótipo, não é pacifista, nem um pouco: é uma das personagens mais vacas fortes da série. E também há a Agente 355, do Círculo de Culper (Culper Ring), que está em missão em Al Karak, na Jordânia. Pouco é revelado sobre ela, além de sua possível nacionalidade americana por estar a serviço desse governo.
          Ok, ok, temos personagens e o que fazem, temos seus conflitos, mas e o conflito da HQ? Uma praga, sobre a qual não é explicado nada (pelo menos até onde li, volume 3), mata TODOS os seres vivos de cromossomo Y. Cada último esperma, feto e mamífero macho no mundo morrem juntos em um pandemônio. Cerca de 48% de toda a população global é exterminada instantaneamente. 85% dos representantes governamentais estão mortos, assim como 100% dos sacerdotes católicos, Rabinos e Imans muçulmanos.
          Todos os homens se foram e, como muitos cargos são (em alguns casos, totalmente) exercidos por eles, o mundo fica um caos. Mas, por algum motivo, Yorick e Ampersand, o macaquinho mais querido da América, sobreviveram. Ambos cromossomo Y ah vá.
          Yorick agora sai de Nova York, se dirigindo a Washington para encontrar a mãe e tentar encontrar uma maneira de chegar até a Austrália em busca de Beth.
          É assim que acaba o primeiro número de 5 que constituem o primeiro encadernado da série. Não entrarei em mais pontos da trama, porque as reviravoltas são tantas e tão incríveis que estragaria tudo. Fiquei surpreso ao saber que tanto Brian K. Vaughan quanto Pia Guerra (os criadores da história) desenhavam e escreviam juntos. Uma coisa muito rara. Eu poderia jurar que o Brian só criava o roteiro e a Pia desenhava. Os desenhos, por sinal, são simples, mas ótimos. Conseguem passar o clima tenso da história e ter sua marca própria.


A bela capa do quinto número mensal.

  O roteiro também é afiado. Corri pelos primeiros cinco números sem nem ver o tempo passar, completamente viciado com a história, que me fisgou no primeiro número e manteve o laço preso em uma maratona de horas e horas de leitura. A história, sutil, mas mindblowing a nível estratosférico, tornou-se uma das minhas HQs favoritas de todos os tempos.
          O primeiro volume de Y: O Último Homem, lançado pela Panini, está esgotado no país inteiro e a editora não tem previsão de uma nova tiragem, mas há o volume previamente publicado pela editora Opera Graphica disponível no site da Saraiva. A edição da Opera está a um preço bem mais salgado do que a da Panini. Também encontrei um primeiro volume em inglês, a um preço razoável, na Saraiva.
         E fico muito feliz em dizer que, após quase 10 anos, a New Line, que está produzindo a adaptação para o cinema da série, encontrou o seu roteirista. Tanta demora se deve à exigência dos executivos da New Line de um roteiro aceitável e, no ano passado, parece que encontraram um de seu agrado. Começa agora a busca pelo diretor e talvez esse filme saia do papel logo.

Marvel 1602, de Neil Gaiman


 Da esquerda para a direita: Matthew Murdoch, Virginia Dare, Rojhaz, Sir Nicholas Fury e Jean "John" Grey.
   

            Quando comecei a ler Marvel 1602, já fazia algum tempo desde que eu cruzara com este volume na biblioteca algumas vezes, sem dar a ele devida atenção mesmo depois de saber que o roteiro estava nas mãos do grande Neil Gaiman. Resolvi tirá-lo da prateleira e começar a ler sem esperar nada transcendental ou literatura de qualidade (acadêmica), como se fosse uma HQ costumeira.
            A história me agarrou nas primeiras páginas. A primeira capa - tímida, mas sombria, retratando Stephen Strange - me intrigou. Os quadros iniciais da história são de uma beleza estonteante. Os desenhos de Andy Kubert são ricos em emoções, figurinos e cenários, possuem enquadramentos cinematográficos e recebem uma vibração que é quase movimento e vida diante dos nossos olhos - tudo isso nas mãos de Richard Isanove, responsável pela paleta de cores. O roteiro de Gaiman é envolvente, com diálogos inteligentes e ágeis.
            Logo somos apresentados à Rainha Elizabeth e à sua corte, onde as intrigas já se manifestam na primeira página. Sir Nicholas Fury (o Nick Fury) é o chefe de espionagem da Rainha, enquanto Stephen Strange (o mago Doutor Estranho no universo Marvel atual) atua como seu médico e conselheiro místico particular.
            O mundo está sofrendo catástrofes e Strange sente que há forças ocultas agindo, forças ligadas ao Dama da Virgínia - um navio a caminho de Londres que traz Virginia Dare -que não tem lugar no Universo Marvel, mas é inspirada em um personagem histórico-, a primeira criança a nascer no novo mundo, acompanhada por seu protetor, o índio Rojhaz (que representa o Capitão América, o Steve Rogers).
            Ao mesmo tempo, há uma disputa pelo tesouro dos templários, na qual o Conde Otto Von Doom (o Dr. Destino) e Sir Nicholas Fury acabam se voltando um contra o outro. Ambos buscam o tesouro e dizem que ele é uma arma de poderes ilimitados.
            Em meio a isso tudo, o rei James VI da Escócia está conspirando com o Supremo Inquisidor da Espanha, e pretende caçar seus odiados "sanguebruxos".
            Aí está uma das adaptações mais bacanas da HQ. Os mutantes de Charles Xavier, neste novo universo, são chamados de "sanguebruxos", aludindo a paranoia religiosa com a bruxaria. O inglês Charles Xavier se tornou o espanhol Carlos Javier e entre o seu séquito de sanguebruxos estão alguns figurões das revistas, como Ciclope, Fera, Jean Grey, Anjo e Homem de Gelo, todos com nomes repaginados de acordo com a época.
            Há também Peter Parker, o Homem Aranha, que aqui é Peter Parquagh, e Matt Murdock, o Demolidor, sendo aqui chamado de Matthew Murdoch. Os dois trabalham com e para Fury na espionagem. Wanda e Pietro, filhos de Magneto e membros da Irmandade, também estão presentes, mas somente o nome de Pietro foi alterado - para Petros, e seu pai também está lá, mas é quase um spoiler dizer quem é ele.
            A HQ transcorre com quadros eletrizantes, sequências lindas de se ler e um clímax inteligente, arrepiante e bonito. Os desenhos de Kubert, as cores de Isanove e o roteiro de Gaiman estão em perfeita harmonia - uma relação difícil de encontrar nos quadrinhos.
            Durante o decorrer do volume, as capas desenhadas por Scott McKowen ficam cada vez mais belas, com perspectiva e iluminação espetaculares, lembrando quadros de época e, em vezes, retratações de pessoas reais ao invés de desenhos.
           Gaiman nos brinda com sua genialidade da fantasia e da ficção científica, mesclada à realidade histórica da época, criando uma série memorável - um tesouro de tinta e papel na estante. Gaiman nos mostra a universalidade e versatilidade dos heróis criados por Stan Lee e Steve Ditko, e a forma como eles se adaptam facilmente a qualquer história ou época. O arco de seis edições deste encadernado é uma história única e fora da cronologia do Universo Marvel, portanto não é preciso ter acompanhado as revistas mensais por 20 anos para apreciar a obra.
            O sucesso de 1602 foi tão grande que a editora lançou uma sequência, mas Gaiman, tampouco Kubert fizeram presença na equipe dessa continuação, o que, é claro, a torna uma HQ mais fraca do que a original. 



           

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