Ratos, de Gordon Reece

Gordon Reece
Edição: 1
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580570700
Ano: 2011
Páginas: 240

Sinopse:
Shelley e a mãe foram maltratadas a vida inteira. Elas têm consciência disso, mas não sabem reagir — são como ratos, estão sempre entocadas e coagidas. Shelley, vítima de um longo período de bullying que culminou em um violento atentado, não frequenta a escola. Esteve perto da morte, e as cicatrizes em seu rosto a lembram disso. Ainda se refazendo do ataque e se recuperando do humilhante divórcio dos pais, ela e a mãe vivem refugiadas em um chalé afastado da cidade. Confiantes de que o pesadelo acabou elas enfim se sentem confortáveis, entre livros, instrumentos musicais e canecas de chocolate quente junto à lareira. Mas, na noite em que Shelley completa dezesseis anos, um estranho invade a tranquilidade das duas e um sentimento é despertado na menina. Os acontecimentos que se seguem instauram o caos em tudo o que pensam e sentem em relação a elas mesmas e ao mundo que sempre as castigou. Até mesmo os ratos têm um limite.

Ratos é um dos livros mais surpreendentes que já li. Jamais pensei que uma obra comprada no impulso, que chamou a atenção apenas por sua frase de capa, pudesse ser tão impactante. O que temos nesse livro não é apenas aquela história de bullying protagonizada por um “coitadinho” como tantas outras que vemos por aí. Gordon Reece vai muito além, explorando o interior da consciência humana e a fronteira entre a fragilidade e a loucura. Como a própria sinopse já diz, até os ratos tem um limite, e é exatamente este o assunto principal do livro.

O livro começa com Shelley e sua mãe se mudando para o chalé Madressilva, um lugar aconchegante, florido e... isolado. É logo no início que percebemos uma das características mais marcantes de Ratos. A trama inteira exibe ambiguidade, esteja ela presente nos personagens, todos possuidores de sombra e luz interior, ou nas situações vividas pelas protagonistas, sempre suaves e cruéis ao mesmo tempo. O equilíbrio entre esses elementos é tão preciso que, às vezes, fica difícil decidir quem são as vítimas e os agressores da história.

Chalé bem semelhante ao Madressilva
E, então, um pensamento me ocorreu, Depois do que fizemos [...], talvez já não fôssemos ratos.
Porém, nesse caso, o que éramos?

Essa característica da escrita de Reece dá um ritmo ótimo ao livro. O leitor é periodicamente bombardeado com informações inusitadas e nunca sabemos qual será a próxima atitude das personagens. O resultado é um desespero intenso pra saber o que acontecerá a seguir, fazendo com que você não se sinta em paz até chegar à última página. (Aliás, por ser um livro feito de surpresas, recomendo que não tentem descobrir nada além do que está dito na sinopse ali em cima. Esse é daqueles livros em que um spoiler pode estragar tudo).

O que deixou a desejar para muitos leitores de Ratos foi o final, que poderia (e talvez merecesse) ter sido mais bem trabalhado. Mas, mesmo extremamente simples, achei que o desfecho coube bem na história. Ele conseguiu fechar de forma adequada e sutil toda a carga dramática construída ao longo da leitura.

[...] Não importa onde estejamos ou o que façamos, a Morte e o Horror estão sempre por perto. O desafio é seguir com nossas vidas e sermos felizes mesmo que sempre possamos vê-los, de relance e borrados, mas ainda reconhecíveis no fundo de cada cena. 

Sem dúvidas, recomendo Ratos a todos que gostam de ser completamente envolvidos por um livro. Ele consegue trazer intensas emoções à tona e tem um grande potencial para se tornar uma de suas obras favoritas, mesmo que você ainda não seja fã dos thrillers psicológicos.

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