O Segredo da Bastarda, de Cristina Norton

Cristina Norton

Casa da Palavra (2014)
320 páginas
ISBN: 978-85-7734-366-9
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
A portuguesa Eugênia de Meneses, neta do marquês de Marialva, passa dias felizes da sua infância no Brasil do século XVIII. Encanta-se com a beleza do lugar e com os escravos, conhece o célebre escultor que trabalha com o cinzel amarrado ao braço: Aleijadinho.
Quando volta a Portugal, descobre outro mundo: é apresentada à família real e chamada para ser dama de companhia da princesa Carlota Joaquina. A partir de então, Eugênia vê a sua vida tornar-se um verdadeiro pesadelo: a impiedosa princesa a acusa de ter um caso com D. João VI. E ela sabe que não sairá do crime impunemente.
Baseando-se em fatos reais, Cristina Norton conta neste romance comovente uma história abafada por ordem régia durante mais de duzentos anos.
*Capa da edição portuguesa.

Para quem, como eu, está acostumado com os romances históricos tough-lit de Bernard Cornwell, O Segredo da Bastarda é uma leitura que vai muito além da zona de conforto. O livro, de estrutura densa e ritmo bastante lento, pode desencorajar leitores que buscam num romance histórico a ação, energia e temática mais enervante de livros como os do autor acima citado. Porém, visto que só comecei a me interessar por dramas recentemente e que encarei a leitura como um completo desafio, O Segredo da Bastarda funcionou muito bem.  

Dispondo de uma abordagem focada no drama familiar, a autora argentina Cristina Norton conta a história de Eugênia de Meneses, que foi aia (dama de companhia) da princesa Carlota Joaquina. A história de Eugênia é contada por Eugênia Maria, sua filha, que narra os acontecimentos desde o batizado e berço nobre da mãe até o fim de seus dias. Eugênia de Meneses veio para o Brasil ainda pequena, trazida pela família, onde cresceu e foi educada. O motivo da viagem? Ela era filha de Rodrigo de Meneses, Marquês de Marinalva e governador da capitania de Minas Gerais, que precisou sair de Portugal para exercer aqui o seu cargo. Tantos detalhes podem parecer confusos, mas são razoavelmente fáceis de acompanhar no decorrer da narrativa. 

A autora alterna os narradores nos curtos capítulos do livro. Em um momento, a fala é de Eugênia Maria; noutro, de um narrador onisciente que não participa da história; e, mais tarde, de uma personagem que traz um tom mais divertido e ácido para a história, que é a fada madrinha de Eugênia de Meneses, Nossa Senhora da Madre de Deus. Tais mudanças de perspectiva sobre a história dão uma dinamicidade pertinente ao livro, mesmo que, graças a elas, seja fácil confundir a fala das duas Eugênias em alguns momentos. Esse e outros pontos acabam exigindo concentração e paciência maiores, fazendo com que o leitor precise se esforçar um pouco mais para se conectar ao livro e seguir o ritmo proposto pela autora.

Mas, à medida que avançamos na história, o drama começa a progredir, se apresentando como numa verdadeira novela encenada nos bastidores da História. Longas viagens, amores proibidos, tragédias familiares... Inúmeros itens capazes de construir uma obra de qualidade, que nos remetem a um passado rico e com detalhes que jamais conheceríamos através de meros livros didáticos.

Assim, O Segredo da Bastarda, livro fundamentado em anos de pesquisa e que traz um agradável aroma de “antigamente”, fica como indicação para quem já está familiarizado com o gênero. Não é uma obra que agradará a todos, já que proporciona uma leitura lenta e que, no meu caso, por mais de uma vez ficou estagnada. Mas é eficaz ao utilizar uma trama bem construída para despertar ou reforçar no leitor o interesse pelas histórias brasileira e portuguesa, o que, por si só, é um incrível mérito a se conquistar.

0 comentários:

Postar um comentário