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A Lista, de Jennifer Tremblay




Jennifer Tremblay
Editora: Autêntica
80 páginas
ISBN: 9788582175194
1ª Edição - 2014

Sinopse:
'A Narradora se desespera; 'O que você, Caroline, gosta no fato de ter filhos?' , 'Gosto da facilidade de se amar os filhos'. Gosto da facilidade de se compreender este texto. Gosto da tradução da Risa. Da poesia da Jennifer. Do ritmo alucinado de sua calma. Batidas à porta. Mais portas. Menos janelas. Mais saídas reais. Apareça lá em casa. Mesmo. Traga seu pijama. Eu acendo a lareira. Eu não tenho lareira. Mas acendo. Também trago no peito as marcas das minhas listas impossíveis. Também preciso parar. Abrir a porta. Pois trago no peito a memória de nossa humanidade possível. Apareça. Agora estou menos enlouquecida. Agora estou aqui, de verdade.'

O monólogo da canadense Jennifer Tremblay aborda a vida de uma mulher dominada pelas atribuições cotidianas e consumida pela culpa por algo que poderia ter sido evitado. No decorrer da história, é descrita a forma como a protagonista conheceu Caroline, sua nova vizinha e amiga, em uma região campestre, provavelmente canadense, na qual a narradora reside com o marido e seus três filhos.

Se fosse possível descrever o tema da obra com apenas uma palavra, seria esta: negligência. O motivo é que a culpa que corrói a narradora sem nome durante toda a história surge a partir de pequenas – e corriqueiras – negligências. O ápice ocorre quando a protagonista descuida de uma tarefa que Caroline solicitou a ela. Essa simples tarefa nos apresenta um terrível fato, do qual o leitor já está ciente desde o início e se questiona para saber o que o causou.

A administração das listas é uma atividade complexa. Os itens numa lista não têm a mesma importância. Não sou nada racional. Minhas listas são intermináveis. [...] 'Achar o número da médica'. Eu não considerei corretamente essa tarefa. Eu devia tê-la considerado de imediato. Sem dúvida. Era urgente. Eu a considerei uma tarefa flutuante. Eu a reescrevia de uma lista à outra. Às vezes nem reescrevia. Eu a achava numa lista antiga. Isso me lembrava que eu tinha prometido. E eu a copiava novamente.
(pág. 55)

Um dos únicos trechos escritos em prosa de toda a obra transmite o modo de agir e o perfeccionismo inerente à protagonista. Os demais trechos são escritos em versos e o texto divide-se em atos (Expiração, Opressão, Dispneia, Síncope, Asfixia, Sufocação e Inspiração). As frases curtas e diretas não significam pouca profundidade, pelo contrário: são capazes de transmitir toda a angústia da personagem e fazer o leitor refletir a respeito das críticas e dos dilemas apresentados no decorrer da história, assim como rever suas prioridades e responsabilidades.

O que você gosta no fato de ter filhos?
Minha pergunta não é sincera.
Ela é mais uma reprimenda.
Ela a coloca contra a parede.
Minha pergunta não é sincera.
Minha pergunta significa o que você gosta no fato de ter tanto problema.
Mas Caroline é uma mulher sincera.
Ela ouve apenas as palavras de que faço uso.
O que você gosta Caroline no fato de ter filhos?
(pág. 38)

Uma das críticas mais fortes que a obra carrega é sobre a maternidade e o casamento. Enquanto Caroline é uma mulher casada e devota aos quatro filhos e ao amor que lhe proporcionam, a narradora queixa-se constantemente das tarefas que seus filhos demandam diariamente, da ausência do marido, cujo trabalho é na cidade, e da falta de auxílio por parte dele no cotidiano da casa e dos filhos.

“Quis vir pra cá pra ele ficar comigo.
Quis vir pra cá pra afastá-lo de tudo.
Quero toda a sua atenção.
Queria sugar o meu marido completamente.
Ser seu único alimento.
Achei que aqui ele não me veria apenas amadurecer.
Achei que aqui eu seria mais doce.
Mas sou uma fruta amarga.
Na cidade.
Ou no campo.
Continuo a ser uma fruta amarga.”
(pág. 18)

Sem mais provas, fica claro que a narrativa é de uma delicadeza e, ao mesmo tempo, de uma frieza que chega a doer. As pausas durante o monólogo são tanto para respirar quanto para digerir aquilo que foi dito. Enquanto a leitura pode ser feita em apenas um dia, o conteúdo da obra permanece latente na cabeça do leitor durante semanas. Ouso dizer que esta é uma obra inesquecível, feita para ser relida em diferentes épocas de nossas vidas, sempre tendo um diferente significado.


A Menina Sem Palavra, de Mia Couto

Mia Couto
Editora: Boa Companhia
160 páginas
ISBN: 9788565771061 

Sinopse:
Os dezessete contos desta antologia foram escritos em fases distintas da carreira do escritor Mia Couto e compõem um panorama surpreendente do universo infantil em Moçambique. Acostumados a reconhecer nos povos africanos a violência e a miséria, o leitor encontrará nessa seleção uma delicadeza que não se vê nos relatos oficiais. As histórias selecionadas mostram a complexidade que move as relações familiares, a orfandade em um país que viveu por anos em guerra, a realidade das crianças submetidas ao trabalho infantil e os resquícios da luta pela independência.
Mia Couto é um prosador bastante sensível às complexidades da vida e um escritor que constrói as narrativas inspiradas na linguagem oral, revelando a sua influência e admiração pelo nosso Guimarães Rosa, sem contar a presença do fantástico e do religioso em suas histórias. 

Logo que terminei o primeiro conto, me perguntei como ainda não havia lido Mia Couto. É um autor de uma delicadeza que transmite a cruel realidade que o povo moçambicano teve que enfrentar e atualmente ainda enfrenta. As histórias mostram a complexidade que move as relações familiares, a orfandade em um país que viveu por anos em guerra, a realidade das crianças submetidas ao trabalho infantil e impedidas de estudar – como pode ser lido e sentido no conto ‘’O Dia em Que Explodiu Mabata-Bata’’ – e os resquícios da luta pela independência, simbolizados pelas minas, que continuam ativas e matando as crianças da região.

Difícil definir qual é o conto mais doloroso do livro, mas também difícil definir aquele que mais aumentou meu já desenvolvido interesse pela cultura e tradições africanas. O escritor é de extrema sensibilidade às adversidades da vida e as evidencia na maioria dos seus contos, os quais mesclam o contexto histórico de Moçambique com o cotidiano de personagens comuns, bem construídos e com uma pesada carga emocional.

O universo infantil é amplamente abordado, porém alguns personagens já maduros nos chocam igualmente com suas histórias. Apesar de ser uma obra ficcional, saber que a guerra civil moçambicana ocorreu em um período tão atual (de 1976 a 1992), e que perdurou por tanto tempo, nos faz pensar que as consequências ainda estão sendo vividas pela população e que muitos foram obrigados a participar de milícias, que refreavam o movimento e aterrorizavam sua própria população, apenas como uma forma de sobrevivência – como nos é mostrado em ‘’O Apocalipse Privado do Tio Geguê’’.

Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara. (pág. 19)

A temática da mulher também ganha destaque no livro, infelizmente com a ênfase de que a mulher era vista como a coitada, aquela de que todos têm piedade por ver seu sofrimento diário, porém ninguém toma providência alguma – como pode ser visto no conto ‘’A Rosa Caramela’’.

Mesmo os olhos lhe eram escassos, dessa magreza de quererem, um dia, ser olhados, com esse redondo cansaço de terem sonhado. (pág. 21)

Apesar dessa ênfase, a admiração do autor pela mulher se deixa transparecer no conto já citado, ‘’O Apocalipse Privado do Tio Geguê’’, ainda que a personagem feminina tenha recebido um desfecho miserável.

A redondura das ilhas, dizia, é o mar que faz. A beleza dessa menina, meu sobrinho, é você que lhe põe. As mulheres que são muito extensas, a gente viaja-lhes, a gente sempre se perde. (pág. 48)

A ambiguidade do desfecho de alguns contos também é explorada por Mia Couto, deixando para o leitor interpretar como desejar, levando muitas vezes à reflexão e fazendo-nos ter a súbita vontade de ler o conto novamente, logo após o ter finalizado. Um dos contos – o qual entrou para a minha lista de contos preferidos da vida –, cujo título é ‘’A Filha da Solidão’’, iniciou-se como uma história comum de patriarcalismo e preconceito enraizado profundamente em uma família de brancos portugueses e finalizou-se com uma dúbia interpretação, a qual desperta a vontade no leitor de que aquele conto fosse transformado em um livro e nos fossem dadas todas as explicações e nuances por trás daquele desfecho. O primeiro trecho do conto resume sua essência e nos faz refletir sobre as consequências das amarras que eram impostas sobre as mulheres no século XX e que ainda estão presentes na nossa sociedade atual.

Na vida tudo chega de súbito. O resto, o que desperta tranquilo, é aquilo que, sem darmos conta, já tinha acontecido. Uns deixam a acontecência emergir, sem medo. Esses são os vivos. Os outros se vão adiando. Sorte a destes últimos se vão a tempo de ressuscitar antes de morrerem. (pág. 93)


Sem dúvidas, Mia Couto entrou para os meus autores favoritos da língua portuguesa.


Cira e o Velho, de Walter Tierno






Na pré-escola e durante o ensino fundamental, todos nós estudamos em algum momento o nosso folclore. Uma coisa um tanto decepcionante nisso é a forma infantilizada como todo ele sempre nos é exposto, muitas vezes na forma reinventada por Monteiro Lobato, ou em recontos influenciados pela obra do mesmo. É difícil pensar que uma ou duas gerações atrás, pessoas adultas levavam a sério esse tipo de coisa. Que a Caipora, o Lobisomem, o Curupira e tantos outros personagens eram histórias que se ouviam todos os dias e metiam medo não só em criança. Todo mundo já ouviu sua avó ou a avó de alguém contar alguma história de Saci ou de Lobisomem, principalmente se você tem algum parente que viveu em zonas rurais.
Cira

Depois que crescemos, temos uma tendência a acabar esquecendo essas histórias, e acabar pensando nelas como coisa pra criança. É aí que o livro de Walter Tierno tem uma das suas maiores glórias, matando essas ideias estúpidas durante uma leitura fluida e divertida. A história corre em dois núcleos: o presente, onde temos um narrador sem nome, que poderia ser o próprio autor, e que conta sua Odisseia em busca de saber mais de Cira, uma personagem folclórica que ele conhecera ao ganhar uma figurinha em um jogo de bafo quando criança; e temos também o passado, o Brasil colonial, onde conhecemos a história de Cira desde gênese, assim como acompanhamos alguns outros personagens – como seu pai, o poderoso Cobra Norato, e também a irmã dele, a maligna Maria Caninana. Cira, assim como o narrador, tem sua própria jornada, uma busca por vingança contra o Velho, que assassinou sua mãe.

Conforme o livro avança e acompanhamos o narrador em sua investigação a respeito de Cira, o autor apresenta uma miríade de personagens ricamente representados. Conhecemos as origens de Cira e algumas figuras clássicas de nosso folclore conforme eles cruzam seu caminho, e também a forma como esses seres tiveram que se adaptar para sobreviver ao passar dos séculos, sendo obrigados a adentrar o espaço urbano conforme as cidades cobriam seu antigo habitat. O autor também assina todas as várias ilustrações do livro – quando o conhecemos na Bienal do Livro de 2014, o próprio Walter fez um desenho à mão na hora, junto com seu autógrafo. O livro não é de forma alguma infantil, muito pelo contrário. A história tem cenas de ação enérgicas e bastante violentas.

A Morte, mimada e birrenta.
O nosso folclore tem uma mensagem geral importantíssima, que o tempo todo nos é repetida quando somos crianças, mas que parece que deixa de nos preocupar e é esquecida junto com essas histórias à medida que crescemos. O Saci, o Curupira, a Caipora e todos os outros espíritos que já cansamos de conhecer, são forças da mata. Manifestações da natureza selvagem, intocada pelo homem. Habitam histórias de coisas ruins que aconteceram com caçadores, desmatadores e pessoas que não respeitaram a Mata. Esses personagens, essas histórias, eram uma forma de os Antigos nos ensinarem a dar o devido respeito à nossa Terra. É nosso dever perpetuar essas histórias, não só por seu valor em nossa identidade cultural, mas por essa prerrogativa. A crise da água já é parte do dia de todos nós, e assim será para sempre. Logo não será a nossa única preocupação do tipo, portanto agora precisamos desses espíritos mais do que nunca, para nos lembrarem de que o que temos não é eterno, e que a nossa Natureza cobra nossas imprudências com tanta severidade quanto um deus de velho testamento.

O trabalho de Walter Tierno contribui com mais do que romances de aventura divertidos, mas também trazendo de volta às nossas vidas adultas alguns dos nossos maiores tesouros.  Cira e o Velho é um livro que traz um gostinho de história de avó, mas contada através de uma narrativa hábil, com cenas de ação cinematográficas e a representação cuidadosa da história de nosso próprio país dá uma vontade enorme de procurar mais histórias do tipo. A menção honrosa vai para a aparição de um personagem histórico bastante importante na História dos escravos e da luta por sua liberdade no Brasil, e para lugar onde se dá o confronto final do romance. Walter escreveu um dos meus novos favoritos, e seu epílogo de explodir cabeças apenas encerra com chave de ouro um trabalho impecável.

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Azul é a Cor Mais Quente, de Julie Maroh



Julie Maroh
Editora Martins Fontes
160 páginas
ISBN: 9788580631258
1ª edição - 2013

Sinopse:
O livro conta a história de Clementine, uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos do diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. A novela gráfica foi lançada na França em 2010, já tem diversas versões, incluindo para o inglês, espanhol, alemão, italiano e holandês, e ganhou, em 2011, o Prêmio de Público do Festival Internacional de Angoulême. Em tempos de luta por direitos e de novas questões políticas, Azul é a Cor Mais Quente surge para mostrar o lado poético e universal do amor, sem apontar regras ou gêneros.

A história percorre várias facetas da vida de duas garotas, com foco na introvertida e delicada Clementine, que aos 15 anos descobre sua sexualidade e seus sentimentos por Emma, a marcante menina de cabelos azuis que atribui sentido ao título da obra. A narrativa se desenrola através de textos do diário de Clementine, os quais tem início nos anos 90 e mostram que nessa época na França ainda há um preconceito explícito contra homossexuais.

Esse preconceito é enfatizado pela mobilização política de Emma em paradas gays, buscando expressar o sofrimento que os homossexuais vivem todos os dias e os perigos da marginalização da homossexualidade e da transexualidade. Os próprios amigos e familiares de Clementine são preconceituosos e não compreendem sua orientação sexual, o que a deixa ainda mais insegura em seu relacionamento com Emma.

O romance entre as personagens enfatiza muito mais a visão poética e universal do amor, sem se prender a gêneros ou preceitos determinados pela sociedade francesa da época. Em uma das passagens de Emma isso é enfatizado, quando ela diz que, se fosse um rapaz, Clementine teria se apaixonado por ela do mesmo jeito.

Engana-se, porém, quem pensa que é apenas um romance entre duas meninas. É um romance que floresce suavemente, progredindo com o passar das páginas, juntamente com a personalidade de cada uma delas. Clementine é uma personagem feminina encantadora, que simboliza o medo que o ser humano sente de si mesmo, de suas escolhas e de seus desejos. Tais medos giram em torno de sua homossexualidade, já que ela se sente insegura por se sentir atraída por uma menina e não sabe lidar com isso. Emma é uma personagem admirável e cativante, principalmente pelo carinho enorme e pela proteção que demonstra por Clementine.

Essa obra me encantou, sobretudo, por fazer com que o leitor se sinta na pele da protagonista, causando, por muitas vezes, nós na garganta de quem está lendo. Demonstra também o quanto os personagens são bem construídos e conseguem transmitir toda a sua carga emocional ao leitor. Por tratar-se de um romance adulto, é uma obra sem hesitações e pudores, assim como todo amor deveria ser, principalmente nos dias atuais.

[...] O amor é abstrato demais, e indiscernível. Ele depende de nós, de como nós o percebemos e vivemos. Se nós não existíssemos, ele não existiria. E nós somos tão inconstantes... Então, o amor não pode não o ser também. O amor se inflama, morre, se quebra, nos destroça, se reanima... nos reanima. O amor talvez não seja eterno, mas a nós ele torna eternos... 
(pág. 157)

Termine Este Livro, de Keri Smith

Keri Smith
9788580575729
Editora Intrínseca
1ª edição - 2014
208 páginas

Sinopse:
Keri Smith, autora de Destrua este diário, estava passeando por um parque quando encontrou um livro de conteúdo profundamente misterioso. As páginas, soltas e embaralhadas pelo vento, pareciam incompletas, e a capa, quase ilegível, exibia as palavras “Manual de instruções”. Diante desse material curioso, ela decidiu transferir para outra pessoa o desafio de decifrar o que há por trás dessa história estranha. E é você, leitor, quem tem a missão de completar o conteúdo da obra desconhecida. Mas não se preocupe: Smith jamais o deixaria desamparado. Antes de revelar os segredos desse estranho manual, você precisa passar por um treinamento intensivo nas artes da espionagem e da investigação. Aprenda a decodificar mensagens criptografadas, reconhecer padrões ocultos no ambiente e usar a criatividade para dar a objetos comuns utilidades extraordinárias. Mais que um meio de estimular a imaginação, “Termine Este Livro” é uma reflexão delicada sobre a interação entre o leitor e a obra e como os livros se entrelaçam com nossas vidas.

Hello, sweeties

Hoje venho contar a vocês da minha experiência um tanto inusitada com “Termine Este Livro”, da Keri Smith. Chega mais.

Conheci a obra pelo facebook da editora aonde li a sinopse e super me interessei. Após namorá-lo pela Saraiva do shopping próximo à minha casa e algumas conversas entre os Ourives, pedi ele à Intrínseca.

Quando li a sinopse e levei em consideração o título do livro, “Termine Este Livro”, imaginei que a autora começaria algum tipo de enredo e caberia ao leitor terminá-lo. Que ela daria algumas dicas, sugestões, opiniões sobre métodos de escrita, fontes de inspiração, etc. Que falaria do horrendo bloqueio criativo, que é um mal que assola, se não todos, muitos escritores. Mas, pela realidade do livro, suponho que “Complete Este Livro”, cairia como um título bem melhor.

Curioso que, diferente do habitual, não li nenhuma resenha sobre ele (nota mental: nunca mais fazer isso) ou o folheei na Saraiva, mas fazer o quê, né? Pois bem, comecei-o. Nome, cidade, país, fazer um desenho inusitado, desenhar uma placa de não perturbe e, daí pra frente, percebi que ele é na verdade uma sucessão de exercícios que, creio eu, sejam para estimular a criatividade ou algo assim.

Quando ele pediu que eu saísse pela rua olhando pelo chão para reparar em coisas que eu nunca tinha prestado atenção antes, eu fiquei tipo “wtf?”. E também havia muitas coisas para estimular o instinto investigativo que eu definitivamente não tenho. Então passei a fazer adaptações usando a imaginação e escrever pelo livro opiniões sobre o que ele pedia. Ele pede muito desenho, boa vontade (até de mais) e paciência. O que, depois de estar tempos com ele em mãos sem ter nenhum resultado satisfatório, já não existia mais.

Quando cheguei à quarta e última parte do livro, folheei e vi que ele manteria o mesmo modus operandi das partes anteriores, desisti. Sendo que essa quarta parte é mais ou menos metade do livro :/ E eu detesto não terminar um livro, acreditem.

Criei muitas expectativas, que infelizmente não foram atendidas. Minha decepção com esse livro rivaliza com a do "A Casa das Orquídeas", da Lucinda Riley. Eu os considero como livros de impulso/embalo. Você começa com todo o gás do mundo e, conforme o tempo passa, desanima.

Mas, como costumo ser otimista, vou lhes dar uma sugestão/dica: não façam o livro sozinhos, Chamem um grupo de amigos pra fazê-lo com vocês (o que pretendo fazer num futuro distante). Assim, a atividade (?) vai ser bem mais divertida e dinâmica, com várias idéias e mentes diferentes opinando e trabalhando juntas. Ah, e sem pressa, por favor. Competir com o relógio é péssimo para a criatividade.

E aí, o que acham? Vai valer a pena terminar este livro? Conta pra gente!
Xoxo

P.S.: Agradecimentos aos meus amigos Giovana Santoro, Gabriel de Paulo e Lucas Alves, que me ajudaram, e à Editora.


Saldo de Natal: O Presente do Meu Grande Amor

Fim de ano é sempre aquele drama: a família se reúne, as férias chegam, o sol vem visitar você e resolve ficar até março e oito banhos gelados por dia não parecem ser o suficiente. No entanto, a Editora Intrínseca preparou uma surpresa interessante para os parceiros: nos enviou, além de um kit lindo que mostraremos no post de retrospectiva, um exemplar do lançamento O Presente do Meu Grande Amor!! Acontece que eu fiquei deitado nesses últimos tempos aproveitando o tempo livre pra apreciar os contos, então vim trazer uma última recomendação literária em 2014. ;)


Antologia

Organização: Stephanie Perkins
Editora Intrínseca
ISBN: 9788580576252
1ª edição - 2014
352 páginas

Sinopse:
Se você gosta do clima de fim de ano e tudo o que ele envolve, presentes, árvores enfeitadas, luzes pisca-pisca, beijo à meia-noite, vai se apaixonar pelo livro. Nestas doze histórias escritas por alguns dos mais populares autores da atualidade, há um pouco de tudo, não importa se você comemora o Natal, o Ano Novo, o Chanucá ou o solstício de inverno. Casais de formam, famílias se reencontram, seres mágicos surgem e desejos impossíveis se realizam. O pessimismo não tem lugar neste livro, afinal, o Natal é época de esperança. 

O Presente do Meu Grande Amor é um livro de contos, organizado pela Stephanie Perkins - Anna e o Beijo Francês - com contos de autores como Holly Black (Boneca de Ossos), David Levithan (Todo Dia), Gayle Forman (Se Eu Ficar), Rainbow Rowell (Eleanor & Park) e outros escritores de YAs, principalmente.

Acontece que cada conto é MUITO representativo do estilo de cada autor. Eu conseguia perceber todos os traços, principalmente da Gayle e do David, de quem conheço mais obras. Os temas, embora sempre natalinos, abrangem romance e aventuras das mais inesperadas, e curti demais cada conto, sem exceção - embora com preferências.

  Destaque para a arte da capa: os doze casais dos doze contos patinando no gelo! ♥ O melhor é finalizar os contos e vir identificar cada um deles na imagem. ;)


Como falar de um livro de contos é complicado porque a cada conto é um novo tema a ser explorado, vou falar em especial dos que mais gostei:

O Que Diabo Você Fez, Sophie Roth? é o conto da Gayle Forman, e conta a história de Sophie, que, em muitos momentos, se envolveu em situações constrangedoras na “Universidade de Fimdemundo”, nome que dá à instituição interiorana onde estuda. Sophie é judia e não comemora o Natal, mas acaba por ir assistir à apresentação de um coral. Ela odeia. Logo depois conhece Russel, um cara que também não curtiu muito a música e a leva para lanchar fora da universidade. Em seguida, vem toda a coisa do desenvolvimento que não vou dizer porque, né, é super curto e estragaria a melhor parte.

Papai Noel por um dia é a contribuição cômica e romântica do David Levithan para a antologia. David é conhecido por abordar a homossexualidade nas suas obras e não é diferente com esse conto. A narrativa em primeira pessoa conta a história de um moço que aceita se vestir de Papai Noel para atuar frente à irmã mais nova do namorado, que está prestes a deixar de acreditar no mito, o que Connor, seu irmão, não quer que aconteça. David conseguiu alternar entre drama e comédia de forma a deixar o conto muito, muito divertido. A comédia é daquele tipo “situações inesperadas e totalmente esquisitas” que ele sempre consegue fazer muito bem. Como não poderia ser diferente, a mistura funcionou mais uma vez.

Pra terminar, vou falar sobre o conto que inicia o livro, o Meias-Noites, da Rainbow Rowell. Meias-Noites conta a história de Mags – Margaret – e Noel. A notoriedade do conto é o fato de que só lemos sobre os dois nas vésperas de Natal. Rainbow dividiu o conto em vários flashbacks, e todas as cenas acontecem na festa de Natal que uma amiga em comum dá na véspera natalina. Então lemos, durante esses flashbacks, o que resumidamente aconteceu durante o ano, ou desde a última vez que Mags e Noel se viram. O conto de Rainbow me agradou bastante ao explorar a amizade e o romance proveniente dessa relação. Com algumas passagens bem rápidas por cenas de humor, Meias-Noites é uma das melhores criações da antologia.

Sei que, bom, o Natal já passou. Mas continua a indicação de um livro que vale a pena ser lido em qualquer época do ano, contando que você queira dar uma fugida pro Natal – ou Hanukkah! - e conhecer todas as confusões que os autores reservaram pra cada leitor!


Vermelho Como o Sangue, de Salla Simukka



Salla Simukka
Editora Novo Conceito
ISBN 9788581635798
1ª edição - 2014
240 páginas

Sinopse:
No congelante inverno do Ártico, Lumikki Andersson encontra uma incrível quantidade de notas manchadas de vermelho, ainda úmidas, penduradas para secar no laboratório de fotografia da escola. Cédulas respingadas de sangue.
Aos 17 anos, Lumikki vive sozinha, longe de seus pais e do passado que deixou para trás. Em uma conceituada escola de arte, ela se concentra nos estudos, alheia aos flashes, à fofoca e às festinhas dominadas pelos garotos e garotas perfeitos.
Depois que se envolve sem querer no caso das cédulas sujas de sangue, Lumikki é arrastada por um turbilhão de eventos. Eventos que se mostram cada vez mais ameaçadores quando as provas apontam para policiais corruptos e para um traficante perigoso, conhecido pela brutalidade com que conduz os seus negócios.
Lumikki perde o controle sobre o mundo em que vive e descobre que esteve cega diante das forças que a puxavam para o fundo. Ela descobre também que o tempo está se esgotando. Quando o sangue mancha a neve, talvez seja tarde demais para salvar seus amigos. Ou a si mesma.

Vermelho Como o Sangue é uma das novas apostas da Novo Conceito, direto das terras geladas da Finlândia, que aborda mistério, suspense, drama e muita, muita confusão.

O primeiro livro da trilogia – sim, meus caros leitores, mais uma trilogia saindo do forno, mas a gente dá conta, não é? – da Branca de Neve narra a história, presente e passado, de Lumikki, uma moradora das terras geladas do hemisfério norte – Finlândia, olá! – e uma ótima pessoa pra se meter em confusão.

Lumikki é a estudante isolada do colégio. Usa um bom tempo de recreação para ficar sozinha nos cantos inabitados da escola, como o laboratório de fotografia. Acontece que, em um belo dia, Lumikki encontra, nesse laboratório, um montão de dinheiro lavado. Lavagem de dinheiro, risos eternos. E não, não estou falando de lavagem figurada de dinheiro. Eram, literalmente, trinta mil euros sendo lavados. Ok, movin on.

Lumikki, depois da aula, retorna ao laboratório para tentar estudar melhor as notas, mas não as encontra mais lá, e, claro, põe-se disposta a bancar a detetive e procurar quem era o possuidor da grana. Achando, afinal, quem eram os caras, Lumikki se mete na maior roubada de sua vida. Correndo contra o tempo e de perseguidores, eis a questão: A QUEM DIABOS PERTENCE O DINHEIRO?

É a partir daí que nós vamos conhecer a corrupção, o tráfico, o crime, as suspeitas, as perseguições, as investigações e as descobertas de nossa grandessíssima “detetive”, que a todo momento é associada à clássica Branca de Neve. Não que o plot se assemelhe, mas sim a aparência (e figurino) de Lumikki – especialmente em algumas partes do enredo.

Depois de tudo isso dito apenas a respeito da história, vamos às ponderações. Primeiramente, Vermelho Como o Sangue é um livro que vale a pena. Vale a pena desfrutar de toda a investigação, vale a pena dedicar algumas horas a sua leitura e vale a pena conhecer Lumikki, Elisa, Tuukka e Kasper.

O romance em si não é feito para deixar muito para o final (o que é simplesmente ótimo). As descobertas não são adiadas e a construção de todo o mistério – e sua resolução – é progressiva. Alternados a elas estão flashbacks do passado de Lumikki e outros personagens, e, por mais que alguns não sejam, de certa forma, relevantes para o plot, eles completaram a obra como um todo e criaram um “fundo” mais consistente para a história.

A Novo Conceito já confirma, na contracapa do livro, o lançamento de Branco Como a Neve e Preto Como o Ébano, respectivamente os segundo e terceiro livros da trilogia. Eu, sinceramente, não tenho ideia de como Salla continuará a série, até porque o primeiro livro tem um final sem grandes ganchos. De qualquer forma, aqui estarei eu esperando pela continuação, para reencontrar a Branca em mais algumas aventuras.

Vale dizer que a revisão da tiragem está ótima. Não consegui observar muita coisa, e achei que a tradução foi, no final, bem dinâmica. Nada de vocabulário denso demais, uma tradução limpa, muito funcional. A edição fisicamente não tem muitas peculiaridades, é bem no padrão Novo Conceito.

Ah, é bom dizer que o livro é relativamente curto. São pouco mais de duzentas páginas, então a leitura, prometo, pode ficar bastante dinâmica na maior parte do livro. Aqui fica registrada a dica de um romance investigativo excelente, mas com certas restrições: há, em várias partes, cenas explícitas de crimes, então um público mais novo não seria tão adequado à história. ;)

A Máquina de Contar Histórias, de Maurício Gomyde

Maucício Gomyde
1ª edição (2014)
Selo Novas Páginas
ISBN: 9788581635040
192 páginas
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Na noite em que o escritor best-seller Vinícius Becker lançou A Máquina de Contar Histórias , o novo romance e livro mais aguardado do ano, sua esposa Viviana faleceu sozinha num quarto de hospital. Odiado em casa por tantas ausências para cuidar da carreira literária, ele vê o chão se abrir sob seus pés. Sem o grande amor da sua vida, sem o carinho das filhas, sem amigos... O lugar pelo qual ele tanto lutou revela-se aquele em que nunca desejou estar. Vinícius teve o mundo nas mãos, e agora, sozinho, precisa se reinventar para reconquistar o amor das filhas e seu espaço no coração da família V. Uma história emocionante, cheia de significados entrelaçados pela literatura, mostrando que o amor de um pai, por mais dura que seja a situação, nunca morre nem se perde.

A primeira coisa a chamar a atenção de um leitor para um livro desconhecido é, muitas vezes, a capa. Hoje em dia, graças aos deuses da literatura, as editoras estão caprichando cada vez mais nelas, fazendo os passeios na livraria serem cada vez mais bonitos aos olhos. A Máquina de Contar Histórias é um daqueles livros que surpreendem pela arte de capa tão bonita, o que, na minha opinião, é uma coisa um tanto incomum de se ver entre os livros da Editora Novo Conceito, embora ela esteja caprichando cada vez mais no projeto gráfico em seus últimos lançamentos.

Eu já estava bastante interessado pelo livro antes mesmo de recebê-lo da editora. Como qualquer leitor que também tenta rabiscar sua própria ficção de vez em quando, me sinto particularmente atraído por histórias envolvendo o ofício da escrita, e é exatamente isso que a capa e o título evocam e mais ou menos do que a história, de fato, se trata.

Maurício Gomyde começa a trama apresentando Vinícius Becker, um superescritor  mundialmente famoso que está lançando seu mais novo romance em um evento em Minas Gerais quando recebe a notícia do falecimento de sua esposa (não é spoiler). Todo o começo do livro, que apresenta Vinícius, sua família e a vida que eles levam, me incomodou muito. O autor inventou um personagem que vive em um Brasil utópico, em que um escritor consegue não só viver de seu ofício, mas ser multimilionário, sair jogando notas de cinquenta reais a esmo – são várias as cenas desse tipo – e viver em uma casa gigantesca em um condomínio fantasioso, impossível de existir em São Paulo. Seria realmente muito bom se, no mundo real, os escritores pudessem ter todo esse reconhecimento de seu trabalho e conseguissem levar uma vida de luxo com seus frutos, mas acho que nem a J. K. Rowling dá gorjetas de cinquenta reais em todo lugar que vai.

Vinícius começa, a partir daí, a sentir-se culpado por não ter estado presente nos momentos finais de Viviana, sua esposa. A filha mais velha, Valentina, um perfeito espécime de adolescente revoltoso, contribui para que o pai se sinta dessa forma com uma discussão no leito de morte da mãe, que me lembrou o barraco épico no funeral em O Cemitério, de Stephen King. O protagonista descobre, só depois que Viviana falece, que ela e a filha haviam escrito um livro juntas, fato que o faz se dar conta do quão pouco esteve presente na vida da família. Quando não está em turnê ou participando de feiras em eventos, Vinícius está escrevendo, tarefa diária que começa antes do sol nascer e que executa com frieza, trancado em seu escritório.
Outra coisa que me gerou muito incômodo na história foram os momentos em que Maurício parava para descrever o protagonista como “a máquina de contar histórias”, isto é, a forma como ele “exatizou”, assim dizendo, o ofício da escrita. Vinícius cria romances aparentemente tocantes com uma série de fórmulas que sempre dão certo, tiradas de um livro que foi entregue de forma messiânica a ele por sua professora da escola e que se tornou sua bíblia e amuleto da sorte.

Mesmo com esses tropeços incômodos na narrativa, a história consegue fluir de forma bem leve, auxiliada pela prosa limpa, pouco descritiva, e pelos diálogos, ainda que sejam bastante mastigados. A partir da metade do volume, o autor tropeçou menos e foi mais feliz ao desenvolver o drama familiar de um pai que tenta se reaproximar das filhas – principalmente a mais velha – após a perda da esposa.

A segunda metade da história flui mais depressa e consegue salvar todo o enredo. Vinícius decide tentar atender os últimos desejos da falecida esposa e, ao lado das filhas, parte numa viagem em busca da resolução de cada um deles. A conclusão consegue ser muito boa e desenvolver melhor Valentina, uma personagem que, de início, era só uma adolescente qualquer que tinha repentinos acessos de maturidade com diálogos prontos dignos de um monge sábio das montanhas, mas que, no final, tem sua ponta amarrada com um nó justo que justifica a personagem e suas motivações. A Máquina de Contar Histórias é um livro que me ganhou com a capa e o título, me perdeu em sua primeira metade, mas conseguiu me ganhar uma segunda vez com o desfecho.


Se eu Ficar, de Gayle Forman

Gayle Forman
Editora Novo Conceito
ISBN: 9788581635415
1ª edição - 2014
224 páginas
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Depois do acidente, ela ainda consegue ouvir a música. Ela vê o seu corpo sendo tirado dos destroços do carro de seus pais – mas não sente nada. Tudo o que ela pode fazer é assistir ao esforço dos médicos para salvar sua vida, enquanto seus amigos e parentes aguardam na sala de espera... e o seu amor luta para ficar perto dela. Pelas próximas 24 horas, Mia precisa compreender o que aconteceu antes do acidente – e também o que aconteceu depois. Ela sabe que precisa fazer a escolha mais difícil de todas.



Se eu ficar é um conto sobre comoção, percalços e reflexão. Em outras palavras, é um livro pra chorar.

Mia é o nome da personagem que conta sua história: dos relacionamentos com sua melhor amiga Kim, com seus pais roqueiros-vida-louca, com seu irmão caçula e com seu namorado amor-eterno Adam.

Na história, acompanhamos uma manhã de nevasca na cidade de Mia. As escolas e empresas fecham nesse dia e Mia se vê, juntamente com sua família desocupada-pelo-dia-todo, saindo para uma visita à casa de uma família amiga da sua, que fica em uma cidade vizinha. Claro que todos gostariam de sair por aí estilo road-trip numa manhã de nevasca, mas isso pode ser facilmente relevado.

Acontece que, no meio da viagem, um acidente envolve um caminhão e o carro dos pais de Mia. Uma desgraça sutil e inesperada sob o som da Sonata para violoncelo nº 3 de Beethoven, que tocava no som do carro – ah, esqueci de dizer que Mia é aficionada por música clássica e aparenta ser o novo prodígio do violoncelo.

Mia acorda caída na neve e, sem sentir dor, procura por seus pais. Acha-os então sendo atendidos por paramédicos e bombeiros. Tudo não poderia ficar mais creepy se Mia não tivesse se visto caída, em terceira pessoa, cheia de machucados e visivelmente desacordada.

Mia – a que narra a história, não a que estava caída na neve – acompanha os paramédicos até o hospital, algo como Ghost, e percebe que a real Mia está em coma. Resumidamente, esse início explica toda a base para a história e também o título do livro: a escolha sobre ficar ou deixar de vez sua existência aparenta ser escolha de Mia – a consciência, não a acidentada.

A partir daí, somos envolvidos em capítulos que se alternam entre o presente, no hospital, e flashbacks, que explicarão um pouco da jornada de Mia até o acidente. Conheceremos melhor os personagens secundários, como Adam e Kim, e também teremos muitas explicações sobre a relação de Mia com a música clássica e seu instrumento favorito, o violoncelo.

A narração é fantástica, todo o drama é apresentado deveras sutilmente. Não como se cada página fosse uma história a nós imposta, mas como se estivéssemos lendo uma biografia próxima, bem explicada, meticulosa, surpreendentemente interessante.

Até então, temos um livro cinco estrelas. Se não fosse pelo pequeno problema de caracterização de personagem.

A verdade é que a personalidade de Mia não é real. Ou pelo menos é surreal demais para ser crível. Não há comoção sobre a morte dos pais. Mia não rola largada pelos corredores do hospital – pelo contrário, fica até muito conformada e parte sem delongas para refletir sobre seu relacionamento com o namorado. A vontade era sacudi-la e lembrá-la: MIA, VOCÊ ACABOU DE PERDER AMBOS OS PAIS, PEGA E VAI ALI ENCHER ESSE BALDE DE LÁGRIMAS, MENINA! Mas não, não é assim que acontece.

De fato, a personalidade egoísta de Mia tirou lindamente um diamante inteiro da avaliação do livro, mas, ainda assim, “Se Eu Ficar” é uma leitura 4 diamantes, capaz de emocionar, induzir uma depressão – mas nada grave, fique tranquilo! – e fazer refletir.

A continuação, embora eu pessoalmente ache desnecessário extender, é extremamente bem vinda e terá sim um lugar no topo da minha lista de leituras. Já adianto que estou interessado em saber "Para Onde Ela Foi" e mal posso esperar pra recebê-lo da Novo Conceito e poder analisá-lo pra vocês.

Princesa Adormecida, de Paula Pimenta

Paula Pimenta
ISBN: 9788501034205
Editora: Galera Record
Edição: 1 / 2014
192 páginas
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Era uma vez uma princesa... Você já deve ter ouvido essa introdução algumas vezes, nas histórias que amava quando criança. Mas essa princesa sou eu. Quer dizer, é assim que eu fiquei conhecida. Só que minha vida não é nada romântica como são os contos de fada. Muito pelo contrário. Reinos distantes? Linhagem real? Sequestro? Uma bruxa vingativa? Para mim isso tudo só existia nos livros. Meu cotidiano era normal. Tá, quase normal. Vivia com meus (superprotetores) tios, era boa aluna, tinha grandes amigas. Até que de uma hora pra outra, tudo mudou. Imagina acordar um dia e descobrir que o mundo que você achava que era real, nada mais é do que um sonho. E se todas as pessoas que você conheceu na vida simplesmente fossem uma invenção e, ao despertar, percebesse que não sabe onde mora, que nunca viu quem está do seu lado, e, especialmente, que não tem a menor ideia de onde foi parar o amor da sua vida. Se alguma vez passar por isso, saiba que você não é a única. Eu não conheço a sua história, mas a minha é mais ou menos assim...

Este foi o meu primeiro contato com a autora brasileira. A fama de Paula Pimenta entre os leitores sempre me instigou bastante, diferente da proposta dos livros. Após meses dedicados a Ficção Científica, decidi optar por livros mais leves. Vi Princesa Adormecida, lançamento da Galera Record, por um preço excelente e não resisti.

Princesa Adormecida foi uma das leituras mais rápidas e fluidas da minha vida, perdendo apenas para A Escolha, de Kiera Cass.

A proposta do livro é bem clara e não exige explicações prolongadas. Aliás, peço que não procurem muitas informações antes de começarem a ler. Mesmo sendo um reconto contemporâneo de A Bela Adormecida (e isso já é informação suficiente), é bom se surpreender com as situações criadas (brilhantemente!) pela autora. Por isso, pretendo ser o mais breve possível.

Anna Rosa, que na verdade é Áurea Roseanna, tem dezesseis anos e é filha de Stefan (descendente da família real do Principado de Liechtenstein) e de Doroteia, uma brasileira. O conflito central começa com o casamento dos dois, que se conheceram na França através de Marie Malleville. Acontece que Malleville, apaixonada por Stefan desde criança, vê-se substituída por Doroteia e jura vingança ao casal, tendo Áurea como principal alvo.

Após o quase sequestro da filha, Stefan e Doroteia forjam a morte de Áurea e enviam-na ao Brasil para morar com os três tios superprotetores: Florindo, Fausto e Petrônio. Já no país natal de Doroteia, Áurea, agora Anna Rosa, cria laços fortíssimos com seus três pais postiços, faz amizades incríveis e até esquece o próprio passado, considerando-o somente outra história de ninar quase fatídica que seus tios costumavam contar para ela, fingindo uma veracidade inexistente.

  A superproteção de Florindo, Fausto e Petrônio passa a ser um problema quando Rosa se torna adolescente. Os três, cientes do perigo que a sobrinha correria se as pessoas erradas descobrissem seu paradeiro, decidem deixá-la sair, mas impõem algumas condições que Rosa decide ignorar ao trocar mensagens com Phil, um rapaz até então desconhecido.

Com direito a linhagem real, vilã e um candidato a príncipe-encantado, o livro começa (e termina) muito bem, com cenas fofas, inusitadas e gostosíssimas de se ler. São tantas coisas incríveis acontecendo que você até esquece a tragédia pré-anunciada pela própria proposta do livro: a Bela, em algum momento, precisa adormecer.

Com várias referências à história original, Princesa Adormecida supera todas as expectativas (baseadas no pressuposto de que tudo será incrivelmente igual) e toma rumos totalmente inesperados, acarretando desfechos dignos de um conto de fadas do século XXI.

Garota Exemplar, de Gillian Flynn

Gillian Flynn
ISBN: 9788580572902
448 páginas (1ª edição - 2013)
Editora Intrinseca
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Uma das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise.
Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi. Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião pública e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo, e sem dúvida amargo, mas seria um assassino?
No ano passado, ganhei de presente o livro Garota Exemplar, que, então, era um lançamento recente da Intrínseca. Mas o livro acabou indo parar na minha não tão pequena pilha de livros a serem lidos e lá ficou por meses. Já faz mais de um ano que o ganhei e só agora fui lê-lo, e estou me odiando por ter deixado este livro incrível acumulando pó por esse tempo todo.

Este ano tem sido muito bom em termos de leituras. Já experimentei alguns gêneros e autores bem diferentes daqueles com os quais estou acostumado, e Gillian Flynn e seu livro estão entre eles. Acho que Garota Exemplar foi meu primeiro mistério propriamente dito. Nunca li Agatha Christie – crucifiquem-me –, mas o sentimento que tive lendo Flynn foi o mesmo sobre o qual já vi as pessoas comentarem ao ler os livros dela: aquele desejo imenso de dar uma espiada na página final pra finalmente saber como a trama se resolve. A curiosidade estava me matando durante a leitura.

Garota Exemplar é contado em primeira pessoa, em capítulos alternados entre a visão de Nick Dunne e a de sua esposa, Amy Elliot (Dunne). A história começa no dia do quinto aniversário de casamento do casal, que é também o dia em que Amy desaparece. Os capítulos de Nick nos contam o presente, o desenrolar das investigações e toda a comoção que o sumiço de sua esposa causou, enquanto os de sua esposa são constituídos de entradas de seu diário, flashbacks de anos anteriores ao acontecido. Amy nos conta a história de seu casamento com Nick, desde o dia em que os dois se conheceram. É muito difícil falar sobre a destreza com que a autora construiu a história sem a estragar para os futuros leitores. À medida que os capítulos vão passando, as investigações começam a apontar na direção de Nick. A polícia e todos começam aos poucos a achar que ele matou a esposa.

Gillian Flynn é GENIAL. No decorrer da história, ela brinca com a cabeça do leitor, nos fazendo desconfiar ora de um, ora de outro, para então nos puxar o tapete com um puta plot twist. As entradas no diário de Amy vão ficando mais recentes à medida que a história avança, e o leitor sabe que chegará um momento em que elas chegarão ao “Dia do” – que é como o livro chama a data em que Amy desapareceu. Isso contribui para aumentar o suspense – como se fosse mesmo necessário –, além da investigação policial sobre o desaparecimento e algumas entradas suspeitas no diário que nos fazem desconfiar ainda mais de Nick. A pergunta que permeia a nossa cabeça na maior parte do tempo durante a leitura é: afinal, ele matou ou não matou a esposa?

Gillian Flynn construiu personagens absurdos. Todos são milimetricamente calculados e executados com maestria. Nick, que conhecemos muito bem durante a primeira metade do livro, é um ótimo exemplo disso. É uma figura complexa, com um background bem sólido, com vontades que o movem, com sentimentos, com qualidades, defeitos, vergonhas, orgulhos e, é claro, segredos. Em seus capítulos, ele não confessa se matou ou não, mas também não deixa de levantar suspeitas sobre si mesmo. O livro foi bem orquestrado nesse sentido, para conduzir o leitor numa trilha crescente de suspense que tem um ápice que não é desse mundo. Ao concluir a leitura e pensar sobre a história, é possível ver o quão bem pensado e organizado foi o livro. O quão bem Gillian Flynn o executou para brincar com a nossa mente, confundir-nos para encerrar tudo com uma pancada na cabeça digna de Mr. Punch. “É assim que se faz!”. Esse livro foi um dos melhores que li em tempos e, por um momento, ameaçou tirar o trono de Precisamos falar sobre o Kevin de melhor leitura do ano. Garota Exemplar definitivamente me tirou a vontade de me casar, e me deixou com um pouco de medo das pessoas – e, talvez, da autora também.

Garota Exemplar vai ganhar ainda este ano sua adaptação para o cinema, que recentemente teve segundo trailer liberado. Você pode conferi-lo aqui.


Quem ficou com vontade de ler o livro põe o dedo aqui, que já vai fechar pode comemorar, porque nós vamos sortear um exemplar dele, em parceria com a Editora Intrínseca! \o/ 

Para participar, você só precisa preencher o formulário no rafflecopter aqui embaixo e seguir estas regrinhas:
- Curtir a nossa fanpage no facebook.
- Compartilhar a imagem da promoção (lembre-se de fazê-lo em modo público).
- Ser seguidor do blog.
- Ter endereço de entrega no Brasil.


PROMOÇÃO ENCERRADA!

Nosso vencedor foi o Renan Esteves. Renan, nossa equipe entrará em contato com você o mais rápido possível pra pegar o seus dados, e o livro será enviado diretamente pela Editora Intrínseca. Esperamos que goste! ;) E, pra quem não ganhou, fiquem ligados que em breve tem mais!

Briga de Cachorro Grande, de Fred Vogelstein

Fred Vogelstein
Briga de Cachorro Grande: Como a Apple e o Google Foram à Guerra e Começaram um Revolução
ISBN: 9788580575200
Editora Intrinseca
576 páginas
1ª edição (2014)
Encontre no Submarino e na Saraiva.

Sinopse:
No começo dos anos 2000, quando o envio de SMS pelo celular ainda era novidade, dezenas de empresas disputavam o mercado de dispositivos móveis. Hoje, apesar da variedade de smartphones, tablets e aplicativos, dois nomes dominam a cena: Apple e Google - que agora ameaçam eliminar uma à outra. Na era de Androids e iPhones, as duas companhias estão em confronto não só no mercado, mas também nos tribunais e nas telas de todo o mundo.
O jornalista Fred Vogelstein acompanhou essa rivalidade desde o começo. Ele nos leva aos escritórios e salas de reunião das gigantes da tecnologia e descreve um mundo de alianças obscuras onde funcionários são sistematicamente pressionados além do limite e o único objetivo é vencer. Vogelstein mostra o que está por trás das acusações de plágio, dos acordos controversos e dos processos judiciais que determinarão a maneira como nos comunicamos. Ele relata, por exemplo, que o atual presidente executivo do Google, Eric Schmidt, foi desligado do conselho de administração da Apple por suspeita de espionagem em 2007, que o protótipo do iPhone 4 já foi esquecido num bar e que Jobs tentou algumas manobras para frear o uso da tecnologia multitoque pelo Google.
Em Briga de Cachorro Grande, uma obra repleta de detalhes inéditos e surpreendentes, o autor revela que não importa saber qual aparelho substituirá nossos celulares e laptops, mas quem controlará o conteúdo nos dispositivos móveis que passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Esta não é uma simples história de batalha corporativa; é um relato de amizades desfeitas, traições e trapaças, e o que está em jogo é o futuro da informação e da mídia.

Briga de Cachorro Grande é um lançamento da Intrínseca – não mais tão lançamento assim (risos). Um livro técnico sobre a revolução causada no mercado de eletrônicos com a criação do iPhone e do Android.

Como livros técnicos definitivamente não são tão atrativos ao público do blog, devo dizer com antecedência que todos os que gostam de tecnologia e afins deveriam dar uma chance a este aqui.

Sobre o enfoque: o livro vai narrar os acontecimentos desde 2002 até os últimos anos, com a criação do iPhone da primeira geração até o iPad. Vai incluir no texto trocentas entrevistas e até uma grande quantidade de dados técnicos, mas tudo muito bem espalhado e de forma alguma cansativo.

Briga de Cachorro Grande vai falar sobre Google e Apple – além de suas parceiras, como Nokia, Sony, etc –, não defendendo ou acusando uma ou outra, mas expondo verdades sobre ambas; da cópia de ideias, do intercâmbio de informações confidenciais, das falhas técnicas nas apresentações dos produtos e muito mais. Tudo de uma forma intensa e simples, o livro pode ser lido como um romance.

Eu curso um técnico em administração e me interesso bastante por histórias de empresas de sucesso, ainda mais empresas de um campo que me atrai tanto quanto o de tecnologias, então foi ótimo poder conciliar as referências que obtive com o prazer de ter lido tal “história”.

Como já disse antes, Briga de Cachorro Grande é um livro técnico para ser lido por todos. Uma narrativa singular, muito mais dinâmica que a de muitas biografias e definitivamente indispensável a qualquer um que queira argumentar a respeito das gigantes do mercado.

A Faca Sutil, de Philip Pullman


Philip Pullman
Editora Objetiva
ISBN: 9788539005321
Ano: 2013
Páginas: 300
Encontre no Submarino.

Sinopse:
Em "A Faca Sutil", Lyra viaja para Cittàgazze, um mundo assombrado onde conhece Will. Juntos eles vão de um mundo a outro, encontram um objeto de poder extraordinário e descobrem a verdade sobres seus destinos. Numa narrativa envolvente, Pullman conduz o leitor a um mundo mágico. Acompanhando a jovem Lyra, que se lança numa busca desesperada e enfrenta terríveis obstáculos quando seu amigo Roger desaparece, o escritor nos apresenta um universo de fantasias onde os daemons correm pelas ruas de Oxford e Londres...onde um redemoinho de poeira misteriosa está por toda parte, tornando possível às crianças conhecerem segredos que os adultos dariam tudo para desvendar.

Desde a resenha de A Bússola de Ouro, estou ansioso por esse texto: finalmente a análise de A Faca Sutil, segundo livro da trilogia Fronteiras do Universo, do Master Lorde da Galáxia Philip Pullman.

Não há modo de falar sobre a história sem dar spoilers, até porque todo o enredo do segundo livro é uma consequência direta do final do primeiro, então, caso você não queira saber sobre a história, pule os próximos 2 parágrafos e seja feliz! ;)

A Faca Sutil introduz um novo personagem, chamado Will, que inicialmente não me pareceu promissor, mas que, no decorrer do livro, acaba se tornando um dos maiores prós do volume. Will vive com a mãe, uma moça aparentemente perturbada, e é perseguido por alguns homens, tendo que fugir constantemente. Will acaba, em uma dessas fugas, achando uma “janela” suspensa no ar – não entenda janela como uma janela convencional, mas como um vácuo, algo assim. Entrando nessa janela, Will descobre um novo mundo e – ó, que surpresa – é nesse mundo que ele encontrará a garotinha mais corajosa e aventurada que a história já mencionou: Lyra da Língua Mágica.

Will e Lyra passam por diversas aventuras e encontros com pessoas desagradáveis, aprendem mais coisas sobre o pó e sobre um item relacionado ao Aletiômetro, uma suposta Faca que pode cortar tudo, até passagens para outros mundos. Enquanto isso, Lorde Asriel está em algum mundo construindo uma fortaleza, se tornando tão forte que há indícios de que ele vá desafiar o próprio Deus a um duelo. Seres de todos os cantos se preparam para uma batalha.

A Faca Sutil ultrapassou A Bússola de Ouro em inúmeros sentidos. A narrativa? Mais ágil e delicada do que nunca. Os personagens? Mais cômicos, dinâmicos e perigosos. O enredo? Uma mistura de “onde é que isso vai terminar” e “NÃOACREDITOQUEISSOACONTECEUCOMOASSIMTENHOQUELERDENOVO”.

Philip finalmente entendeu que a série poderia ser mais que o plot principal e parte com insanidade para as referências político-religiosas. Diversas pistas e discussões implícitas são deixadas como easter-eggs em todo o livro, muitos personagens não medem a língua para expor suas opiniões sobre o Magistério e a crítica definitivamente não passa despercebida: a podridão camuflada de supostas boas intenções.

Ao contrário das trilogias convencionais, o volume "do meio" desta aqui não é apenas uma "ponte" entre o primeiro e o terceiro livros, mas uma continuação mais que digna de uma história cheia de mistério, humor, aventuras, lutas e, mais que isso, missões all over. Lyra e Will têm que buscar coisas, encontrar pessoas, espionar, fugir, tudo isso com um mundo (ou vários, rsrsrs) de coisas acontecendo no plano de fundo.

De fato, nossa ilustre Editora não poderia estar mais correta que isso: a série parte do bom para o melhor. Altas expectativas estão envoltas em A Luneta Âmbar, terceiro e último volume. Espero que me restem algumas unhas depois de tudo e que Lyra finalmente resolva seus problemas com seus pais, seus aliados e, principalmente, seus inimigos ambiciosos que aparentemente não podem esperar para botar as mãos em sua preciosa bússola da verdade.


Claros sinais de loucura, de Karen Harrington

Karen Harrington
ISBN: 978-85-8057-507-1
Edição: 1 / 2014
256 páginas
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Você nunca conheceu ninguém como Sarah Nelson. Enquanto os amigos acompanham as aventuras de Harry Potter, ela escreve cartas para Atticus Finch, advogado de O sol é para todos. Também coleciona palavras-problema em um diário, tem uma planta como melhor amiga e vive tentando achar sinais de que está ficando louca. Não é à toa: a mãe tentou afogá-la quando criança e Sarah vive com o pai alcoólatra.

Com a chegada do verão em que completa doze anos, Sarah está cada vez mais apreensiva. Sente falta de um pai mais presente e das experiências que não viveu com a mãe, já se acha grande demais para passar as férias na casa dos avós, está preocupada com a árvore genealógica que fará na escola e ansiosa porque seu primeiro beijo de língua ainda não aconteceu. Mas a vida não pode ser só de preocupações, e entre uma descoberta e outra, pouco a pouco, Sarah vai perceber que seu verão tem tudo para ser muito mais que isso. Bem como seu futuro.

Sou apaixonada por livros infanto-juvenis, então decidi pedir este de cortesia para a editora. Obrigada, Intrínseca.

Sarah Nelson, nossa protagonista, acaba de fazer doze anos e está perto de ingressar no sétimo ano. Amiga de Lisa – uma garota viciada em relacionamentos alheios – e Planta – um ser fotossintetizante –, além de colecionadora de palavras-problema, ela está prestes a ter experiências ímpares enquanto procura por sinais de loucura – genes possivelmente herdados da mãe –, planeja o primeiro beijo e se prepara para o trabalho sobre árvores-genealógicas do próximo ano letivo, quando todos acabarão descobrindo que ela é filha de Jane Nelson.

Acontece que a mãe de Sarah tentou afogar ela e o irmão quando eles tinham apenas dois anos de idade. E, infelizmente, o menino, irmão gêmeo de Sarah, não sobreviveu. Graças à polêmica gerada pela mídia sensacionalista, todas as pessoas do país e do mundo passaram a falar sobre isso, desestabilizando Sarah e o pai, um alcoólatra.

Decidida a fazer seu possível último verão em Garland, o sovaco do Texas, valer a pena, Sarah reluta em ir para a casa dos avós em Houston. Depois de implorar por algo realmente divertido ao pai, ela se surpreende com a proposta feita posteriormente por ele: se voltasse para casa ao anoitecer, Sarah poderia passar os dias com Finn e a irmã Charlotte, seus vizinhos universitários.

Fã de “O sol é para todos” e caçadora assídua de palavras diferentes, Sarah não aparenta ter só doze anos e demonstra isso desde o princípio, possibilitando a compreensão mútua entre o personagem e o leitor. Adultos poderão se identificar com ela, ouso dizer.

A protagonista tem muito que aprender durante o verão, assim como os leitores. Amadurecimento, frustrações, descobertas e autodescobertas fazem de “Claros sinais de loucura” uma leitura rápida, dinâmica e cativante.

Com uma narrativa simples, personagens riquíssimos e citações marcantes, Karen Herrington não decepciona em seu primeiro livro infanto-juvenil.

Recomendo para os fãs de John Green, pois possui uma pegada similar, e para aqueles que buscam uma leitura mais introspectiva.


A Bússola de Ouro, de Philip Pullman

Philip Pullman
Ponto de Leitura
I.S.B.N.: 9788539000227
1ª Edição - 2010
432 páginas
Encontre no Submarino.

Sinopse:
O primeiro volume da trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman, se passa em um mundo muito parecido com o nosso — mas com algumas curiosas diferenças. Ciência e religião se confundem. Todo ser humano possui um dimon, um animal inseparável que na infância toma várias formas. E existe um raríssimo objeto que aponta a verdade, mas ninguém sabe fazê-lo funcionar. Lyra é uma menina levada que vive na tranqüila cidade universitária de Oxford, na Inglaterra. Lá, crianças começam a desaparecer. E quando seu grande amigo Roger, some, Lyra parte em sua busca, disposta a desafiar seus próprios temores. Na paisagem árida do Norte, onde tenta encontrar Roger, Lyra enfrenta uma terrível conspiração que faz uso de crianças-cobaias em sinistras experiências. Entre ursos usando armadura e bruxas que sobrevoam as sombrias geleiras, Lyra terá que fazer alianças inesperadas se quiser salvar o amigo de seu trágico destino.

A Bússola de Ouro já estava ali na estante havia uns dois anos, mas eu sempre formulava um “é, não agora!” quando folheava, e assim muito tempo se passou. Eis que eu não me arrependo nem um pouco de ter esperado tanto pra lê-lo, só me arrependeria muito se esperasse mais uma semana sequer.

Sobre a história de Lyra – Lyra da Língua Mágica, risos –, pouco há pra se dizer de novidade, você provavelmente já assistiu à adaptação cinematográfica – de 2007 –, mas vamos lá:

Lyra Belacqua, órfã, vive em Oxford, em uma sociedade de opressão, segredos e manifestações físicas das almas humanas, os dimons (dimons na tradução para o português, daemons no original) – partes complementares das pessoas, que têm formas variadas de animais e, a partir da puberdade, adquirem uma forma fixa.

O melhor amigo de Lyra, Roger, é sequestrado, e Lyra parte em busca dele com seu dimon, Pantalaimon, em direção ao Norte, para onde crianças de todo o mundo estão sendo levadas por um grupo de pessoas chamadas nas ruas de Globbers.

É acompanhando a jornada de Lyra e Pan que teremos toda a introdução – e parte do desenvolvimento – da história. Conheceremos ideologias, acompanharemos debates e muitas batalhas. Ação, drama, aventura: quantidade certa entre tudo, um livro sensacional.

Eu recomendo A Bússola de Ouro para qualquer um que esteja interessado em fantasias. A narrativa é objetiva, ao mesmo tempo em que toda a história é muito bem explicada. Eu, que simplesmente perco o interesse no livro caso já tenha visto seu filme, não pude ter qualquer tempo livre sem estar com o livro em mãos.

Cinco estrelas merecidas e, como ainda me disseram que a série só melhora nos segundo e terceiro livros, acho que eu vou é ter que colocar estrelas bônus nas próximas avaliações. Ansioso que sou, já tenho as sequências no kindle e sequer devo demorar a lê-las, quanto mais resenhá-las.

Nota d’A Editora: Quando eu digo que só melhora no segundo e terceiro livros, pode acreditar. Essa série é sensacional e, além de tudo, ainda foi escrita pelo meu xodó Philip Pullman! 


Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez

Gabriel García Márquez
I.S.B.N.: 9788501078896
Editora Record
Brochura
Português
448 páginas
Encontre na Saraiva.

Sinopse:
Depois de uma jornada que levou mais de vinte famílias a fundar o vilarejo de Macondo, Cem anos de solidão começa mostrando o líder do movimento e grande patriarca dos Buendía, José Arcadio, numa visita a ciganos nômades instalados no local. Influenciado pelo líder, Melquíades, e pelas fascinantes inovações que lhe são apresentadas, José Arcadio começa uma incessante e desenfreada busca pelo conhecimento, tendo como um dos objetivos encontrar a mítica Pedra Filosofal. Então, sem comer, sem dormir e sem viver, ele mergulha num sonho insone, deixando para Úrsula Iguarán, sua sábia e forte esposa, a responsabilidade de cuidar da casa, dos três filhos – José Arcadio, Amaranta e Aureliano, posteriormente responsáveis por estender a árvore genealógica da família – e de seu espólio.

O mundo ganha o apreço dos Buendía em detrimento do vilarejo de Macondo. Entre revoluções liberalistas e anarco-sindicalistas, o livro se revolta entre confusões do que é realidade, sonho, fé, vida, morte ou qualquer outra ideia intangível. A solidão inerente à condição humana se exemplifica em cada um de seus personagens, em momentos diferentes de suas vidas. Presos pelos nomes que carregam desde o nascimento, os Buendía sofrem de loucura e lucidez invejáveis. Fogem de uma em direção à outra a todo momento. Até que, no final, cem anos se passam. Condenados a nunca poderem ter uma chance de consertar suas vidas.

Impulsionado pelo falecimento do escritor colombiano, me perdi em dois dias de leitura, perdendo meu feriado de páscoa e abandonando qualquer coisa que chamei de vida até então. Enveredei-me pelas linhas como quem sobe numa árvore, dos mais baixos galhos ao céu. Numa escrita singular, Gabo (como era chamado pelos amigos) monta uma história sem começo ou fim. Ele relata uma fração do que acontece com as personagens, à sua própria maneira, como um cronista que relata suas aventuras.

Algo marcante é a relação dos nomes com os personagens. Cada um deles era preso ao que era sem nunca perceber isso. O narrador, consciente do passado, presente e futuro, apresenta, numa riqueza de adjetivos infinita, um leque de tantos sentimentos quanto é possível, mas sempre destinados ao irremediável. As dores e alegrias dos nascimentos, dos amadurecimentos – sejam como forem –, das paixões irremediáveis, dos casamentos turbulentos e das mortes passearam pelas vidas dos personagens, das mulheres promíscuas às mães de família.

Me senti vazio, sem coração, triste e feliz, tudo ao mesmo tempo, numa espiral de cores senis. A idade pesou em mim como em cada personagem. Eu vi seus corações e seus maiores medos. E senti a vida se esvair dos meus dedos a cada folha. No final, não sei o que senti. Senti-me bem, livre. Toda a solidão parecia como um sonho distante. É esse o poder de Gabriel García Márquez. É esse o tipo de feitiço que rendeu ao livro o prêmio Nobel de literatura em 1982.