Qualquer cidadão da internet
que se interesse por cultura e música pop com certeza já deve ter esbarrado ou
ao menos ouvido falar em alguma música da poderosíssima drag queen RuPaul,
tida como a maior e mais famosa drag dos Estados Unidos – e quiçá de todo o
mundo. Na experiência deste que vos fala com baladas para o público gay, nunca
houve uma festa que em não tocasse Sissy That Walk,
o último hit de RuPaul. Tão famoso quanto, ou talvez ainda mais conhecido que a
sua música, é o seu programa de TV, produzido pela Logo TV, um reality show
onde drags competem pelo título de America’s Next Drag
Superstar.
Um amigo tentou me apresentar
o programa há alguns anos e, embora tenha conseguido me fazer ouvir o então
recém-lançado single Glamazon, da
RuPaul, e a música Hot
Couture, da Manila Luzon – uma das concorrentes da terceira temporada do
programa –, não cheguei a assistir ao reality propriamente
dito. Foi só em 2014, o terrível ano sabático em que tive tanto tempo livre que
estava implorando por um emprego, que tirei uma sexta-feira tipicamente tediosa
para assistir à sexta temporada do programa.
Confesso que, antes de
assistir a ele, considerava a cena drag um tanto trash. O meu
conhecimento do assunto era bastante limitado e, pela pouquíssima representação
do movimento na mídia – no Brasil a gente só tinha as poucas que apareciam de
vez em quando em programas do SBT e as famosas como Nany People –, eu achava
que tudo se resumia a isso.
Mas RuPaul’s Drag Race me mostrou que não existem
somente as queens
do bate-cabelo, e que o drag é uma
expressão artística que envolve música, teatro, dança, moda e tanto mais.
Em uma noite que se estendeu
madrugada adentro, devorei a sexta temporada do programa com uma voracidade que
eu não tinha com seriados há tempos. Nunca fui um fã de realities, nunca
gostei de American
Idol e seus tantos variantes por sempre me parecerem mais do mesmo a cada
temporada ou novo programa do gênero que surgia. Talvez seja por isso que RPDR me prendeu
do começo ao fim. O programa tem um quê de reality de Face Off, um
tanto de Project
Runway¸ mas é autêntico, divertido e viciante como ele só. Em três dias,
acabei por ver toda a sexta temporada e também a primeira temporada de um dos spin-offs do
programa, RuPaul’s
All Stars Drag
Race, que reuniu drags eliminadas das primeiras 4 temporadas para uma nova
competição. Infelizmente, assistir All Stars foi um
pequeno spoiler das primeiras temporadas, pois ali eu já vi algumas drags
maravilhosas que não haviam ganhado a competição no seriado original em
temporadas cujas vencedoras eu, como novato, eu ainda não conhecia.
No programa, as drags competem
toda semana em desafios diversos, desde posar para ensaios fotográficos
temáticos até fazer intervenções e closar na rua. Ao
fim de todos os episódios, todas vão para a passarela com um look completamente
novo, que é sempre projetado por elas ao longo da semana segundo o tema
proposto por Ru.
Na passarela, as concorrentes são julgadas pelo desafio da semana, e duas
sempre ficam aptas a eliminação. Por mais que os jurados sempre deliberem e
ajudem a julgar os desempenhos nos desafios, a decisão final é sempre da
RuPaul, e as duas queens que ficam na berlinda têm sua última chance de
se mostrarem dignas de permanecer no programa com uma prova de dublagem, onde
ambas dublam juntas uma música escolhida. A que Ru julgar vencedora permanece,
enquanto a perdedora deixa a competição.
O ambiente principal, o Workroom, onde as
competidoras trabalham em seus visuais, é onde acontece a maior parte da ação.
As intrigas, muitos dos momentos cômicos, readings e shades acontecem
ali. É onde a gente conhece bastante do que há por trás das personagens, os
bastidores, os homens que vivem debaixo daquelas camadas de maquiagem e um
pouco sobre suas trajetórias artísticas e pessoais.
RPDR é um seriado
delicioso de assistir, não importa em qual ordem você assista, não importa seu
gosto musical, sua orientação sexual ou se você é humano, árvore ou alienígena.
Não conheço uma pessoa sequer que não tenha ficado viciada no programa ao parar
para assistir. Eu mesmo, que entrei sem saber muito do assunto, mudei de
opinião sobre o movimento e aprendi muito com a Mama Ru, cujos
maiores ensinamentos são sobre autoestima, autoaceitação e amor próprio. Foi
realmente uma pena ter negligenciado o programa por tanto tempo, porque ele é
uma pérola da televisão de hoje, e todo mundo devia assistir um pouco de RuPaul’s. Mostre
um episódio de RPDR para o seu amigo,
pro seu namorado, pro seu parente conservador, pra quem puder, porque ele é
digno de cada segundo gasto com os episódios e você vai terminar isso tudo
amando toda essa montação, e amando mais a si mesmo também porque, citando a
toda-poderosa: “If
you can’t love yourself, how the hell are you gonna love somebody else?”
RuPaul's Drag Race
ganha sua sétima temporada em Março, e a Logo TV já liberou dois trailers, além do meet the queens. Veja aqui o último trailer da nova temporada, que apresenta as queens escolhidas e deixa um gostinho ótimo de barracos vindo aí.
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