Half Bad, de Sally Green


Sally Green
Editora Intrínseca
304 páginas
1ª edição

Sinopse:
Nathan, filho de uma bruxa da Luz com o mais poderoso e cruel bruxo das Sombras. O adolescente vive com a avó e os meios-irmãos e é visto como uma aberração por seus pares. O Conselho dos Bruxos da Luz vê nele uma ameaça, que precisa ser domada ou exterminada. Prestes a completar dezessete anos – época em que todos os bruxos passam por uma cerimônia em que seu dom é finalmente revelado bem, como sua denominação como bruxo da Luz ou das Sombras –, agora Nathan terá que correr contra o tempo para achar o pai, que jamais teve oportunidade de conhecer, e salvar a própria pele.

Quase todo mundo já está farto de livros YA protagonizados por bruxos e afins. O gênero está saturado de histórias desse tipo, com protagonistas rasos e ruins e tramas que são mais do mesmo e não falam de nada novo. No meio disso tudo, Half Bad, um lançamento ainda fresco nas prateleiras, é um verdadeiro achado e uma história com potencial, mas que, até o momento, tem feito menos barulho no Brasil do que merecia.

Assim como uma certa escritora britânica que todos conhecem, Sally Green resolveu contar uma história sobre bruxos, e criou seu próprio universo para isso. Durante a leitura, é impossível não lembrar em algum momento de Harry Potter, embora as semelhanças entre as duas obras não vão muito além do tema. O universo que Green criou, apesar de simples e despretensioso, é extremamente original, funcionando de uma maneira surpreendente. 

Os bruxos de Sally são divididos em duas raças (chamemos assim, embora essa palavra nunca tenha sido usada no livro): Bruxos da Luz e Bruxos das Sombras. Bruxos da luz são maioria e não se misturam em momento algum com Bruxos das Sombras, que são os renegados que se recusam a viver misturados com os félixes (não-bruxos), como fazem os seus opostos.

O protagonista, Nathan, é um menino que desde pequeno foi uma exceção. Seu pai, Marcus, é um poderoso e violento bruxo das trevas caçado abertamente pelo Conselho dos Bruxos da Luz. Sua mãe é uma bruxa da Luz que teve o marido assassinado por Marcus. As circunstâncias da concepção de Nathan são um mistério. O menino é criado pela avó materna e pelos meio-irmãos. Nunca conheceu o pai, que vive foragido e nunca tentou contato, nem a mãe, que está morta. Nathan é o único bruxo meio-código: Meio-Luz e Meio-Sombra. Todos os anos ele precisa ser levado ao Conselho, onde é submetido a testes para que possa ser designado seu código definitivo e para que ele possa ser rotulado, enfim, como bruxo da luz ou das sombras.

Sally Green usa a história para falar de temas fortes, como racismo, preconceito e os motivos que levam uma pessoa a ser “má” ou “boa”. Nathan, desde muito pequeno, já é discriminado, agredido e ameaçado pela própria irmã por ser diferente, mestiço. O bullying que Nathan sofre na escola rende cenas pesadas e violentas, que servem bastante como reflexão sobre a forma como os adolescentes lidam com a diversidade. Em um livro razoavelmente curto, a autora explora isso tudo sem pesar na história, que não deixa de ser um romance ágil e empolgante de aventura.

O Conselho está constantemente avaliando e rastreando Nathan, pois acham que ele é sua maior chance de chegar a Marcus. Conforme ele cresce, o desejo do menino de conhecer o pai só aumenta, assim como seu ódio pelo Conselho por todo o sofrimento que lhe causa. Isso o faz, em alguns momentos, se perguntar se ele é mais parecido com o pai do que pensava. Se sua metade má não prevalece sobre a boa. 

A história é cheia de cenas de ação fantásticas, principalmente aquelas em que os poderes dos bruxos acabam figurando. Eles se assemelham mais a habilidades como as dos mutantes de X-Men do que com poderes como os dos bruxos de Harry Potter. 

Ao completar dezessete anos, todo bruxo deve receber três presentes e beber o sangue de um bruxo mais velho de sua família. Esse ritual de iniciação é essencial, pois é depois dele que se manifesta e se desenvolve o dom de cada um. Os dons podem ser bem variados, indo desde o preparo de poções, que é o mais comum, até soltar fogo pela boca e pelas mãos, se transformar em animais, ler mentes e desacelerar o tempo. Geralmente, os dons são os únicos poderes que os bruxos têm. A originalidade da autora ao discorrer sobre as tradições dos bruxos e as características que os diferem dos félixes é impressionante em sua simplicidade.

Em uma trama ágil, cheia de cenas de ação e sequências quase cinematográficas, Half Bad é uma pequena pérola entre os outros livros do gênero. Sally Green estreia com louvores com este livro, que me surpreendeu pela maturidade e pelo tom sombrio da história. Definitivamente, um livro que merece cada segundo investido, e que deixa um desejo imenso de saber mais desse universo e do restante da história de Nathan. Uma surpresa e tanto e, definitivamente, um dos melhores YAs que já  li.


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