A Hora das Bruxas vol. I, de Anne Rice

A nova  e feia capa do livro.
           A Hora das Bruxas foi o segundo romance da Anne Rice que li. Comecei a lê-lo em um assomo de euforia quando chegou aqui em casa, com essa capa toda linda exibindo a tela do Rembrandt: a edição antiga que eu estava cobiçando havia tempos. Pois então, lá fui eu.
            O primeiro livro da autora que li foi, como no caso de muita gente, Entrevista com o Vampiro, do qual gostei muito. Quem sabe um dia eu leio os – muitos – outros livros da série que começa com Entrevista. 
            Mas a estrela de hoje não é Louis de Pointe Du Lac e suas aventuras vampirescas, e sim uma família inteira e toda a sua história. 
            A Hora das Bruxas começa nos apresentando um pouco sobre os membros da “família principal” dos Mayfair, os atuais residentes da casa em First Street, no Garden District, em Nova Orleans. Conhecemos Carlotta, Nancy, Belle, Ellie, Deirdre e algumas outras mulheres, membros da família mais ativos na casa. Deirdre é a herdeira do legado da família através de uma série de processos, criados décadas atrás, envolvendo o testamento da família, que diz que a herdeira – ou “beneficiária” – do legado da família será sempre a herdeira mulher mais jovem nascida na geração, contanto que seja membro da “família do legado” e que utilize o sobrenome Mayfair, independente do pai. 
            Durante a leitura, tive a curiosidade de pesquisar o endereço da casa dos Mayfair (First Street, 1239, Garden District, New Orleans). Descobri que ela de fato existe e é a casa onde vive Anne Rice e a família.

     
A casa da família Rice, que serviu de inspiração para a história.
            Há uma série de picuinhas entre as irmãs, intrigas, fofocas e coisas mais, já que Deirdre é enferma e suspeita-se que não vá viver muito mais tempo, mas os “protagonistas imediatos” da trama, aqueles que protagonizam toda a história presente no livro, são Rowan e Michael. Rowan é filha de Deirdre, e, assim, herdeira do legado, mas não sabe disso e foi criada como filha adotiva, na Califórnia, por uma tia. Ela é médica e alguns eventos fazem com que conheça Michael.
           Michael é um personagem muito bem explorado no livro. Gosto do estilo da autora de construir e trabalhar seus personagens com maestria. Nós conhecemos Michael, sua vida, e a forma como ele se envolverá com Rowan e com a história da família Mayfair.
            E a trama segue muito bem, obrigado, a um ritmo crescente, desacelerando ligeiramente quando vamos conhecendo mais e mais a respeito do passado dos Mayfair, de suas origens e do porquê de as mulheres da família serem frequentemente chamadas de “bruxas”.
             Para você aí que achou que A Guerra dos Tronos chegou ao ápice da quebra de tabus com os incestos retratados em algumas famílias da história, A Hora das Bruxas contém talvez o triplo de relações incestuosas e foi publicado originalmente em 1990 - seis anos antes da primeira edição de A Guerra dos Tronos. Não, eu não estou criticando ou acusando Martin de plágio ou falta de originalidade, apenas fazendo uma comparação.
            Seguindo com a barca, com algumas histórias de bruxaria, fantasmas, incesto e outros “recheios de livro”, a história de várias gerações da família é contada e conhecemos Lasher, um espírito  - que, segundo a sinopse na quarta capa do livro, é meio demônio meio divindade celta, embora isso não seja dito expressamente no romance – que acompanha a família, proporcionando cenas assustadoras e, digamos, pesadas.
            A Hora das Bruxas não é um livro para ser lido em uma semana. É um livro grande – no Brasil precisou ser dividido em dois volumes de quase quinhentas páginas, com uma fonte minúscula – e é muito, muito bom. É o tipo de livro que nos faz companhia por um mês ou dois, que lemos sem pressa, acompanhando cada passagem e saboreando o talento da autora. Tampouco é um livro para qualquer pessoa. Algo que gostei nos livros que li da autora foram os muitos acréscimos culturais que eles me trouxeram, como, por exemplo, a curiosidade de conhecer mais sobre as sombrias telas de Rembrandt.
A tela "Lição de anatomia do Professor Tulp", de Rembrandt, que foi utilizada na capa antiga do livro.
O que tenho a dizer é: gostei muito do livro. Muito mesmo. Fiquei com uma vontade desesperadora de pegar o segundo volume e continuar a acompanhar história dos Mayfair assim que terminei de ler o primeiro. É um livro essencialmente gótico, sensual, misterioso e assustador, e entrou facilmente para os meus favoritos. Se você nunca leu Anne Rice, comece por outro livro e, se gostar, leia A Hora das Bruxas. Se quiser começar por ele, também garanto que não vai se arrepender. Cinco estrelas no skoob e, já, uma das melhores leituras do ano – e da vida – deste que vos fala.



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3 comentários:

  1. Eu adoro esse livro! Fiquei feliz de ver essa resenha por aqui. :)

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  2. Acho que já li esse livro inúmeras vezes. Adoro as referencias de lugares e objetos. Um livro que instiga pagina após pagina. Formidável.

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    1. Nhw, é sensacional mesmo, né? Eu li tem uns dois anos, e ainda não consegui ler a segunda parte! Isso é uma das coisas que mais me frustra de a Rocco ter partido o livro em dois aqui no Brasil. Mas esse ano estou tentando ler coisas da Anne outra vez, e talvez tente reler A Hora das Bruxas e ainda emendar Lasher e Taltos nele (':

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