Ourives entrevista: Enrique Coimbra




O carioca Enrique Coimbra escreve diariamente para seu site, o Discípulos de Peter Pan, e também tem um canal no youtube, o Vlog sem H. Em fevereiro, publicou independentemente seu primeiro livro, “Os Hereges de Santa Cruz”, um romance sobrenatural sobre magia e ocultismo ambientado nos subúrbios do Rio de Janeiro. Ele bateu um papo com a gente sobre seu livro, os caminhos da vida como escritor, sobre autopublicação e um pouco mais.   

1       Como você começou a escrever? Quais foram as suas influências em Hereges? Quanto tempo levou entre começar o primeiro rascunho e a finalização e lançamento do livro?
Não lembro quando comecei a escrever, mas acho que foi reflexo de ter começado a ler quadrinhos bem cedo. Sempre fui esquisito, né? Minha mãe diz que eu adaptava filmes para HQs e vendia pra família. Alguém tinha que comprar. Em 1996, saiu o filme Jovens Bruxas (The Craft) e a Sessão da Tarde não enjoava de passar Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987). Minha paixão por bruxas e motoqueiros imortais veio daí. Estudei magia (de verdade!) dos meus 11 aos 19 anos, começando pela Wicca. Só estudava mesmo, nem praticava. Desde então, sempre quis ler uma ficção mais realista sobre o assunto, só que nunca encontrei nada além de um monte de jovenzinhas superficiais fazendo bruxaria no ensino médio por tédio. Apesar de amar Harry Potter, ainda estava longe do que eu idealizava como livro perfeito pro meu gosto: cínico, ácido, sem firulas ou jogos de luz. Em 2011, defini as diretrizes d'Os Hereges de Santa Cruz usando como base dois amigos meus e o território onde moro, divisa dos bairros de Guaratiba, Sepetiba e, respectivamente, Santa Cruz. Tirei o glamour da magia e dos protagonistas que, normalmente, são da classe média. Quis tonificar com trevas a realidade de três jovens sem esperanças que buscariam na magia uma forma de mudar a realidade amarga. Abandonei a faculdade e o trabalho porque estava sem tempo para escrever e decidi viver de miojo, sem um tostão pra sair ou levar uma vida social. Meu objetivo era cuidar do meu site, o Discípulos de Peter Pan (DDPP) e finalizar Os Hereges. Em dezembro de 2013, em 4 semanas contadas, escrevi 350 páginas de uma vez, me isolando de todo mundo sem Facebook, celular ou visitas. De janeiro a fevereiro de 2014, revisei e revisei, até diminuir o livro para 200 páginas e lançar no dia 28 de fevereiro.
1       De onde surgiu a ideia para o livro? Ela mudou muitas vezes durante o processo de criação? Haverá uma sequência para a história?
Minha paixão pela estética de filmes como A Bruxa de Blair, Atividade Paranormal, e aquelas fotos macabras de rituais satânicos da deep web, fez com que a ideia se mantivesse firme: eu queria escrever o livro que eu gostaria de ler. Foi exatamente o que fiz. E como a história original ficaria com 600 páginas, tive de dividir em dois volumes, já que sou autor autopublicado, todo indie. O custo para um livro de 600 páginas aumentaria o preço final da obra, inviável. Sem falar que ninguém leria a versão digital desse tamanho. Então vai ter mais um volume. Todos os capítulos e o fim do livro estão prontos, só preciso escrever propriamente. É a parte mais divertida.
1       Como funciona a sua rotina de escrita? Você escreve com metas diárias ou semanais, ou simplesmente escreve “quando dá vontade”? Você prepara a história antes de escrever a prosa ou simplesmente vai escrevendo e descobrindo na hora para onde a trama seguirá?
Sou viciado em escrever! Aaaah! Passo 16 horas por dia produzindo artigos para o DDPP, gravando vídeos pro Vlog Sem H no YouTube, diagramando, ilustrando capas, criando websites, administrando fanpages... Então pego muito no meu pé, sou perfeccionista e odeio gastar tempo à toa. Nunca escrevo “quando dá vontade”. Aprendi que a criatividade pode ser controlada e minha preguiça ou receio nunca me impedem de edificar meu sonho, sabe? A gente inventa desculpas para não fazermos o que amamos. Eu arrisquei meu futuro profissional para investir na literatura. Se eu fizer corpo mole, sou o único prejudicado. Minha técnica na hora de escrever, até para evitar bloqueios criativos, é pesquisar muito e criar sinopses de capítulos antes de escrever de verdade. No meu site, falei dessas duas partes importantes da minha rotina criativa num guia sobre “como escrever um livro”.

No site do Enrique, leia sobre pesquisa e sobre a técnica de sinopses, partes de seu processo criativo.


1       A maioria dos “escritores de gaveta” tem problema em conseguir concluir seu primeiro original, várias vezes deixando-o por uma outra ideia que apareça. Isso aconteceu com você durante a criação do livro? O que te motivou a ir até o final e não deixar a ideia de lado?
Eu sou chato. Sou a pessoa mais chata e responsável do multiverso quando se trata de terminar o que comecei. Isso porque tenho um sonho: me tornar best-seller. Tenho muitas ideias de livros e uma necessidade insana de compartilhar os mundos que crio na mente, mas sou um só para fazer tudo. Sendo assim, puxo minha orelha e invisto no que produzo. Minha ansiedade me motiva a ir até o final, porque quero ver o resultado pronto! Inteiro! Confio nas minhas personagens, nos enredos e, principalmente, só escrevo o que eu gostaria de ler. Isso ajuda muito. Depois que você termina o primeiro livro, o resto vem de forma mais fácil. Você acha que pode dominar o mundo e escrever qualquer coisa!
1       O que te fez optar pela autopublicação? Qual o maior pró e o maior contra dessa opção? Você fez todo o trabalho de revisão, edição e formatação sozinho?
O que me fez optar é o que faz 96% de autores optarem pela autopublicação: lentidão e incerteza no processo de seleção editorial. Para enviar um original, receber (ou não) feedback, negociar e mimimi, pode ser necessário esperar entre 6 e 12 meses. Isso porque a editora vai querer mudar sua capa, censurar seu texto, inserir, remover partes etc. Isso se você for aprovado! Na autopublicação, o controle é 100% do autor. Quando o cara sabe o que tá fazendo, é bom pra caramba, mas essa liberdade criou uma imagem ruim em livros autopublicados, de que escritores que se lançam dessa maneira são amadores. Isso porque a galera escreve, não revisa, faz uma capa sem nenhum apelo e enfia na internet. Eu quis fazer diferente, porque já fui relaxado assim. Montei um website, fiz minha capa maneirona, buscando referências de sucessos do meu gênero (especialmente cinematográfico), revisei mil vezes e mandei para alguns amigos qualificados, editei, formatei, diagramei... Tanto a versão física quanto a digital! O lado ruim da autopublicação é que toda divulgação fica nas suas costas e por mais que você tenha as cópias físicas, lojas grandes como Saraiva ou FNAC não irão vendê-las fisicamente. Claro que quero ganhar um dinheirinho (ganho só R$ 1,00 por exemplar vendido), mas nunca foi meu objetivo primário. Escrever é uma necessidade pra me manter são. O truque é ter uma porrada de livros interessantes no mercado, por isso tô escrevendo mais um monte.
1       Ser um autor independente deve complicar na hora de não ter um corpo editorial te ajudando a promover sua obra. Como você lida com a responsabilidade de assumir toda a propaganda do Hereges de Santa Cruz e como tem feito para promovê-lo?
Dói na alma. Mas olha, dói muito. É cansativo, parece autopromoção, mas o que me motiva a seguir em frente é o pensamento de “Cacete! É meu livro! M-E-U L-I-V-R-O!”. Antídoto pra fadiga.
1       Já tem planos para seus próximos trabalhos? Enrique Coimbra será um nome que associaremos sempre aos romances sobrenaturais como Hereges, ou você tem planos de trabalhar outros gêneros e temáticas? Pode nos dar alguma dica sobre o que está por vir?
Enrique Coimbra é maluco. Acabei de lançar esse romance sobrenatural com horror e ocultismo, mas no próximo mês já vou lançar um romance focado no público GLS, chamado Sobre um garoto que beija garotos. Ainda nesse semestre, vou começar uma ficção científica para lançar no fim do ano e tenho planos de duas séries de minilivros pra ler na fila do banco ou na fila do McDonald's. Os chamo de fast-books. Quero explorar tudo que me interessa, experimentar gêneros, novas narrativas. Não quero escrever sempre a mesma coisa, mas sempre escrevo o que quero ler. Vou repetir isso eternamente.


1       Existe algum tipo de máxima que você siga com relação ao ofício de escrever e que você possa compartilhar com quem também quer seguir a carreira de escritor? Não faça a Suzana Vieira, tenha paciência com quem está começando. Algum conselho, macete ou dica? Alguma verdade cruel ou segredo sedutor sobre o ofício? Fique à vontade.
Vou dar A DICA MAIS INCRÍVEL DE TODAS CARACA COMO VOCÊ NUNCA PENSOU NISSO ANTES EM CAPS LOCK MEU DEUS OLHA SÓ: jogue a preguiça no lixo junto com as desculpas de (a) não tenho tempo (b) tô cansado (c) tô morrendo. Quanto mais cedo começar, melhor. Especialmente se quiser publicar por uma editora, já que o processo demora. Pratique, escreva muito, muito, muito, sobre tudo. Aprenda a descrever cenários, se questione sobre seus sentimentos e os explique para você mesmo. Observe as pessoas no ônibus, ouça os problemas dos outros e leia feito maluco! Leve a sério! A única maneira de dar certo é tentando! Decidi que quero me tornar um best-seller e ganhar dinheiro de livro. Como ganho R$ 1,00 por obra, preciso ter muitas no mercado, certo? Então esse ano quero lançar uma chuva de livros diversos, participar de concursos, entreter as pessoas! Você nunca vai estar “pronto” para começar a escrever até começar de verdade, então comece AGORA! Você vai dar certo! E se fraquejar, se você se achar ruim e precisar de apoio moral, fala comigo! Tô sempre na página do DDPP, no vlog, e realmente quero que os sonhadores aproveitem essa nova fase da literatura brasileira comigo. Até me sinto menos sozinho e tenho mil projetos para ajudar (futuros) autopublicados!
Conheça o primeiro livro do Enrique, Os Hereges de Santa Cruz, e seu novo livro, Sobre um garoto que beija garotos, que ACABOU DE SER LANÇADO! Vem, gente!

2 comentários:

  1. Oi!
    Adorei conhecer esse novo autor e vou lá dar uma olhada no vlog dele!
    O blog de vocês é muito bom, parabéns! estou seguindo.
    Vou fazer uma Tag que vocês que criaram, Apocalipse Zumbi, adorei! Ideia genial!
    Até mais! - http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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    1. Oi Luiza! Que bom que gostou (: O Enrique é um querido mesmo.
      Vi sua resposta à tag! Sua equipe ficou muito legal hahaha
      Volte mais vezes!

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