Os livros de Don Winslow foram outra das minhas andanças a territórios não explorados em minha experiência como leitor. O único exemplo que tive de um livro ou autor do gênero tough-lit foi o de Bernard Cornwell, mas, como em algum momento durante a leitura de um dos livros de Don Winslow pensei que eles seriam uma antítese perfeita para os romances chick-lit, imagino que devam entrar no nicho.
Don Wislow
O livro é focado em O(phelia), Ben e Chon, que levam uma vida invejável, fruto de seu trabalho duro. O é uma espécie de Dona Flor moderna, rica, safada e californiana. Os três sustentam uma espécie de poliamor: basicamente ela é namorada dos dois, mas eles não são namorados um do outroembora fosse sensacional se fossem. Os dois se respeitam e se amam como irmãos (Lannister, oi! Possibilidades! Parei.), e simplesmente amam a mesma mulher. É moderno, é complexo, é sensacional. Ben e Chon são responsáveis por variações especiais de maconha, combinações únicas com efeitos diversos. Basicamente, são os grandes fornecedores de uma das melhores maconhas do mundo para toda a Califórnia e o resto dos Estados Unidos. O cenário californiano está tão entranhado na trama – com tantas cenas e menções às suas praias douradas, com personagens surfando e tudo mais – que o estado se torna quase um personagem à parte. O livro já começa, desde as primeiras páginas, nos apresentando este cenário e seus personagens principais, começando por O(phelia). A história tem uma carga bem pesada de sexo, drogas e violência, que não atrapalham de forma alguma a leitura, muito pelo contrário. Don Winslow tem uma narrativa bastante leve e, com capítulos curtos, o livro começa a voar diante dos nossos olhos sem que percebamos.
Don Wislow
Don Wislow
Editora Intrínseca
ISBN: 9788580572292
1ª edição - 2012
288 páginas
Encontre na Saraiva
Sinopse:
Ambientalista e filantropo nas horas vagas, Ben comanda um negócio de venda de maconha em Laguna Beach. Ao lado de seu parceiro, o ex-mercenário Chon, ele fatura lucros consideráveis e mantém uma clientela fiel. No passado, quando seu território foi invadido, Chon tratou de eliminar a ameaça. Agora, porém, eles parecem estar diante de uma força da qual não podem dar conta: o Cartel de Baja, do México quer tomar a região e avisa que não irá aceitar uma negativa como resposta. Quando os dois amigos se recusam a recuar, o cartel reforça a advertência sequestrando Ophelia, companheira e confidente dos rapazes. O sequestro deflagra uma gama alucinante de negociações habilidosas e reviravoltas inacreditáveis, que deixarão os leitores ansiosos para descobrir o custo da liberdade e o preço de um grande barato. Uma engenhosa combinação entre o suspense carregado de adrenalina e a reportagem policial, Selvagens é um thriller alucinante, escrito por um mestre do gênero no auge de sua carreira.
Selvagens foi o meu primeiro contato com o trabalho de Winslow. Eu me lembro de, no ano passado, ter visto o lançamento Kings of Cool – que, por sinal, é um prequel para Selvagens – exposto em todas as livrarias em que eu passava, mas não guardei o nome do autor, de forma que só após ter concluído a leitura e pesquisando mais sobre seus livros é que fui me dar conta de que era ele quem assinava Kings of Cool. A leitura de Selvagens foi uma daquelas mais deliciosas, quando começamos uma leitura sem saber absolutamente nada do livro. Abri Selvagens sem ter lido orelha, sinopse ou seja lá o que for, apenas atraído pelo primeiro capítulo, um dos mais sensacionais primeiros capítulos que eu já vi (clica aqui pra ver, é curtinho e não é spoiler).
O livro é focado em O(phelia), Ben e Chon, que levam uma vida invejável, fruto de seu trabalho duro. O é uma espécie de Dona Flor moderna, rica, safada e californiana. Os três sustentam uma espécie de poliamor: basicamente ela é namorada dos dois, mas eles não são namorados um do outro
O narrador é outra delícia à parte. Cheio de tiradas sensacionais, sarcástico e desbocado, às vezes faz parecer que a história toda é uma conversa entre camaradas. A partir do momento em que os personagens principais estão apresentados, o autor lança o conflito, a reviravolta da história. Essa reviravolta já está denunciada na sinopse, e eu a considero um spoiler, portanto não irei mencionar. Leia a sinopse por sua própria conta e risco. De qualquer maneira, saber isso não vai prejudicar tanto a leitura: a partir do momento em que a história dá essa cambalhota, tudo só acelera e as coisas vão ficando mais sujas e violentas, a adrenalina sobe a níveis críticos e tudo culmina em um clímax perfeito. Eu, que sempre achei repetitivos e sem graça aqueles filmes de ação sobre traficantes, perseguições e coisas assim, nunca achei que fosse gostar tanto de uma história com os mesmos elementos. Talvez seja a forma como Winslow a construiu que faça toda a diferença. Esse foi o livro adulto que me fez voltar a shippar – Chon, Ben e O é o que? Cheno? – novamente. Esse livro acabou e eu fiquei com tanta vontade de mais que minha reação ao descobrir Kings of Cool foi mais ou menos a da irmã da Chloe.
E como menção honrosa: O filme é dirigido pelo Oliver Stone, o mesmo de Natural Born Killers. Tem John Travolta, Salma Hayek e ninguém menos que Aaron Taylor-Johnson, Taylor Kitsch e Blake Lively como o trio muito mais que shippável. Vem ver o trailer (link), que o filme é ótimo!
Don Wislow
Editora Intrínseca
ISBN: 9788580575484
1ª edição - 2014
352 páginas
Encontre na Saraiva
Sinopse:
Frank Machianno é um assassino de aluguel. Um assassino de aluguel aposentado, na verdade. Quando estava na ativa, era conhecido como Frankie Machine, mas os dias de crime ficaram no passado e ele leva uma vida tranquila no litoral de San Diego, onde é conhecido por ser um empresário comprometido e um pai e ex-marido exemplar. Quando, porém, o filho do atual chefe da máfia lhe pede um favor, Frank se vê obrigado a atender, e as ameaças de sua antiga profissão voltam a atormentá-lo. Alguém do passado o quer morto e Frank precisa descobrir quem e por quê. O problema é que o rol de candidatos é tão extenso quanto a lista telefônica da Califórnia e o tempo de Frankie está acabando. Ao retratar com riqueza de detalhes a violência inata ao mundo da máfia, Don Winslow construiu um thriller magnífico, repleto de ação e de personagens carismáticos. Combinando bom humor, inteligência e dinamismo, O inverno de Frankie Machine transporta o leitor para os cenários quentes de San Diego e da cultura surfista, com o auxílio de um anti-herói cativante.
Antes que eu pusesse as mãos no meu tão desejado Kings of Cool, recebi da linda da Intrínseca O Inverno de Frankie Machine, que foi um dos lançamentos da editora em junho de 2014. O livro tem um tom bastante diferente de Selvagens e talvez tenha sido a minha expectativa de ler algo como ele que contribuiu para que eu ficasse um pouquinho meh com essa segunda leitura.
O Inverno de Frankie Machine começa com uma pegada diferente de Selvagens. Ao mesmo passo que ele tem um ritmo que demora um pouco mais a engrenar, aqui Winslow está mais sarcástico do que antes. Frank Machianno, o nosso protagonista, é dono de uma loja de iscas no litoral californiano. É um homem que já não é mais tão jovem, que surfa pela manhã com mais alguns tiozões antes que a molecada encha a praia, e que mantém sistematicamente a sua rotina. Tem cronometradas as suas horas de sono, o tempo para se vestir, tomar banho e preparar o café da manhã. Workaholic é o nome do meio de Frank. Além de ser o dono de sua loja de iscas, ele é um empresário, tem uma série de investimentos pela cidade e faz questão de manter o olho em tudo. O que demora um pouco a ser revelado é que Frank, quando mais jovem, foi conhecido como Frankie Machine e trabalhava com a máfia como matador de aluguel.
Esse lado de ex-mafioso aposentado é um dos temperos mais divertidos da história. Winslow troca de pontos de vista o tempo todo, sem separação nem aviso prévio. Num parágrafo é ele, narrador onisciente em terceira pessoa, no outro é Frank, narrando de seu próprio ponto de vista. Frank faz algumas referências à cultura pop, principalmente ao Poderoso Chefão, ícone do cinema e primeira coisa de que muita gente se lembra quando se fala de máfia. Frank deve ter sido o meu primeiro anti-herói na literatura. Ao mesmo tempo que não gosto muito dele por ser tão chato, metódico e quadrado em algumas coisas, não consigo não adorar ele virado no Jiraya, badass como ele só.
A partir do momento em que Frank sofre um atentado, acaba se vendo obrigado a se meter com a máfia novamente para descobrir o mandante de sua morte. Don Winslow parece ter uma fórmula que dá muito certo para suspenses de sucesso. Sol californiano, sexo e drogas em abundância, violência até dizer chega, pitadas de acidez e sarcasmo e uma trama que começa tranquila até virar do avesso, dar piruetas e tornar-se uma correria deliciosa livro adentro. Graças a esse homem, eu estou gostando cada vez mais de histórias sobre a máfia e, depois deste livro, vou me atirar nos filmes d’O Poderoso Chefão e em todo outro livro de Winslow que eu vir pela frente.
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