A Máquina de Contar Histórias, de Maurício Gomyde

Maucício Gomyde
1ª edição (2014)
Selo Novas Páginas
ISBN: 9788581635040
192 páginas
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Sinopse:
Na noite em que o escritor best-seller Vinícius Becker lançou A Máquina de Contar Histórias , o novo romance e livro mais aguardado do ano, sua esposa Viviana faleceu sozinha num quarto de hospital. Odiado em casa por tantas ausências para cuidar da carreira literária, ele vê o chão se abrir sob seus pés. Sem o grande amor da sua vida, sem o carinho das filhas, sem amigos... O lugar pelo qual ele tanto lutou revela-se aquele em que nunca desejou estar. Vinícius teve o mundo nas mãos, e agora, sozinho, precisa se reinventar para reconquistar o amor das filhas e seu espaço no coração da família V. Uma história emocionante, cheia de significados entrelaçados pela literatura, mostrando que o amor de um pai, por mais dura que seja a situação, nunca morre nem se perde.

A primeira coisa a chamar a atenção de um leitor para um livro desconhecido é, muitas vezes, a capa. Hoje em dia, graças aos deuses da literatura, as editoras estão caprichando cada vez mais nelas, fazendo os passeios na livraria serem cada vez mais bonitos aos olhos. A Máquina de Contar Histórias é um daqueles livros que surpreendem pela arte de capa tão bonita, o que, na minha opinião, é uma coisa um tanto incomum de se ver entre os livros da Editora Novo Conceito, embora ela esteja caprichando cada vez mais no projeto gráfico em seus últimos lançamentos.

Eu já estava bastante interessado pelo livro antes mesmo de recebê-lo da editora. Como qualquer leitor que também tenta rabiscar sua própria ficção de vez em quando, me sinto particularmente atraído por histórias envolvendo o ofício da escrita, e é exatamente isso que a capa e o título evocam e mais ou menos do que a história, de fato, se trata.

Maurício Gomyde começa a trama apresentando Vinícius Becker, um superescritor  mundialmente famoso que está lançando seu mais novo romance em um evento em Minas Gerais quando recebe a notícia do falecimento de sua esposa (não é spoiler). Todo o começo do livro, que apresenta Vinícius, sua família e a vida que eles levam, me incomodou muito. O autor inventou um personagem que vive em um Brasil utópico, em que um escritor consegue não só viver de seu ofício, mas ser multimilionário, sair jogando notas de cinquenta reais a esmo – são várias as cenas desse tipo – e viver em uma casa gigantesca em um condomínio fantasioso, impossível de existir em São Paulo. Seria realmente muito bom se, no mundo real, os escritores pudessem ter todo esse reconhecimento de seu trabalho e conseguissem levar uma vida de luxo com seus frutos, mas acho que nem a J. K. Rowling dá gorjetas de cinquenta reais em todo lugar que vai.

Vinícius começa, a partir daí, a sentir-se culpado por não ter estado presente nos momentos finais de Viviana, sua esposa. A filha mais velha, Valentina, um perfeito espécime de adolescente revoltoso, contribui para que o pai se sinta dessa forma com uma discussão no leito de morte da mãe, que me lembrou o barraco épico no funeral em O Cemitério, de Stephen King. O protagonista descobre, só depois que Viviana falece, que ela e a filha haviam escrito um livro juntas, fato que o faz se dar conta do quão pouco esteve presente na vida da família. Quando não está em turnê ou participando de feiras em eventos, Vinícius está escrevendo, tarefa diária que começa antes do sol nascer e que executa com frieza, trancado em seu escritório.
Outra coisa que me gerou muito incômodo na história foram os momentos em que Maurício parava para descrever o protagonista como “a máquina de contar histórias”, isto é, a forma como ele “exatizou”, assim dizendo, o ofício da escrita. Vinícius cria romances aparentemente tocantes com uma série de fórmulas que sempre dão certo, tiradas de um livro que foi entregue de forma messiânica a ele por sua professora da escola e que se tornou sua bíblia e amuleto da sorte.

Mesmo com esses tropeços incômodos na narrativa, a história consegue fluir de forma bem leve, auxiliada pela prosa limpa, pouco descritiva, e pelos diálogos, ainda que sejam bastante mastigados. A partir da metade do volume, o autor tropeçou menos e foi mais feliz ao desenvolver o drama familiar de um pai que tenta se reaproximar das filhas – principalmente a mais velha – após a perda da esposa.

A segunda metade da história flui mais depressa e consegue salvar todo o enredo. Vinícius decide tentar atender os últimos desejos da falecida esposa e, ao lado das filhas, parte numa viagem em busca da resolução de cada um deles. A conclusão consegue ser muito boa e desenvolver melhor Valentina, uma personagem que, de início, era só uma adolescente qualquer que tinha repentinos acessos de maturidade com diálogos prontos dignos de um monge sábio das montanhas, mas que, no final, tem sua ponta amarrada com um nó justo que justifica a personagem e suas motivações. A Máquina de Contar Histórias é um livro que me ganhou com a capa e o título, me perdeu em sua primeira metade, mas conseguiu me ganhar uma segunda vez com o desfecho.


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